Luciano Siqueira
Em geral é muito difícil combinar capacidade reivindicatória dos sindicatos com a recessão econômica. Conservar o emprego passa a ser questão de vida ou morte. Falta fôlego e ambiente para melhorar salário. Mas quando a economia se expande – como acontece no Brasil -, os trabalhadores descortinam possiblidades e elevam o tom.
Matéria publicada na Folha de S. Paulo, dias atrás, trouxe uma informação importante sobre o assunto. “Reajustes salariais superam a inflação” é a manchete. No texto, a constatação de que o “aquecimento do mercado de trabalho tem forçado empresas a ceder às pressões de trabalhadores por aumentos salariais acima da inflação, apesar de sinais de que a economia começa a esfriar.”
Assim, 88 sindicatos com data-base nos primeiros seis meses do ano conquistaram reajustes acima da inflação. Em média, o aumento real no primeiro semestre foi de 1,86%, ante 1,53% no mesmo período de 2010.
E não precisa ir longe. Em 2010, com economia ainda sob os impactos da crise global – apesar de aqui ter sido uma “marolinha” -, as coisas se passaram de outro modo. Conseguir aumento real era um parto a fórceps.
Isso tem a ver com a possibilidade de se ter um crescimento econômico não excludente, efetivamente progressista: com distribuição de renda e valorização do trabalho. E coloca nas mãos dos sindicatos e das centrais sindicais a responsabilidade irrecusável de alevantar com firmeza suas bandeiras de luta.
O papel dos sindicatos na atualidade enseja um crivo entre o sindicalismo imediatista, não raro conciliador e mais dado ao conchavo do que à luta versus o sindicalismo classista, que contempla as pautas imediatas de cada categoria e os rumos da Nação.
Na atual conjuntura econômica e política do País, sindicato que se atém tão somente à pauta econômica imediata está fadado a obter apenas conquistas breves, efêmeras, sem maior consequência.
Já os sindicatos competentes para lutar “em duas trincheiras”, exigindo salário, direitos e condições de trabalho e o mesmo tempo combatendo a política macroeconômica que ainda se funda em metas anti-inflacionárias, superávit primário elevado, altas taxas de juros e cambio sobrevalorizado – estes são classistas, no sentido de que vão além de imediato, pontual e circunstancial e exercitam o papel histórico dos trabalhadores como força motriz da transformação social.
Daí a conjuntura de expansão econômica rimar com poder reivindicatório, e também com a chance de elevação da consciência de classe dos que sobrevivem do seu trabalho.
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