Que venham as primeiras pedras em janeiro
Luciano Siqueira
Publicado no Blog da Revista Algomais
Tudo bem que agora é festa. Confraternização todo dia, numa espécie de preparação intensiva para o réveillon. Embora ninguém desconheça que entre uma taça de vinho e outra não falte quem especule sobre as eleições que se aproximam. Nesse clima, como diria o poeta, tudo vale a pena, desde que a alma não seja pequena.
Mas quando janeiro vier não haverá como fugir. Um crivo necessariamente entrará em cena – o das propostas concretas para nossas cidades. Os que têm o que propor serão chamados a atirar as primeiras pedras, sob pena se reduzirem as tratativas eleitorais a apenas isso: meros arranjos voltados para uma hipotética possibilidade de voto.
Quem agir assim fará muito pouco. Dificilmente se credenciará à disputa, pois se é fato que problemas cruciais se agigantam gerando inquietações cotidianas, mormente em nossas grandes e médias cidades, é igualmente fato que o eleitorado a cada pleito faz o seu aprendizado e se torna mais exigente. Por exemplo, em relação ao problema da mobilidade urbana. Pretendentes a candidatos majoritários frequentaram os canais de TV no horário gratuito, recentemente, esbravejando em relação ao problema, porém sem nenhum indicativo de solução. Assim não dá. Reclamar por reclamar, dirá o eleitor, melhor continuar como vai.
E como vai, de toda sorte, ainda em relação à questão da mobilidade, vê-se que iniciativas são tomadas, como no caso do Recife. Grandes intervenções físicas – como a Via Mangue, o Capibaribe Melhor, o Corredor Norte-Sul -, previstas ou em andamento, se somarão a um conjunto de medidas tomadas nas duas gestões do prefeito João Paulo. Não se constituem em solução definitiva, pois será necessário a alternativa estrutural de inverter a política nacional de mobilidade dando prioridade ao transporte coletivo, ao invés do individual, como acontece hoje (e vem desde o governo JK, quando aqui se instalou a indústria automotiva).
Em outras palavras, o debate terá que ferir os problemas, para muito além da superfície. Até para que se construam alianças sólidas, tanto no campo governista como no da oposição, e para que se dê ao eleitor a possibilidade de enxergar a verdadeira natureza das alternativas propostas.
Sem quer ser otimista em demasia, tenho comigo que a simples pirotecnia marqueteira não dará conta da conquista do voto, por mais sofisticada e plasticamente bem feita que seja. Caberá aos partidos costurarem alianças sobre a base de plataformas reais (ou programas, como alguns preferem), em sintonia com a comunidade técnica, com a academia, com segmentos organizados da sociedade. Estejam ou não na cabeça da chapa majoritária.
No caso do PCdoB trata-se de uma orientação nacional, válida para todos os municípios. O ponto de partida é o projeto de uma cidade mais humana, com o qual o Partido se apresentará aos demais na fase pré-eleitoral propriamente dita – quando as forças políticas sentarão à mesa para discutir ideias, nomes e composições – que se iniciará em janeiro, com breve parada no Carnaval, e desembocará nas convenções partidárias de junho.
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