Um novo pacto para avançar a salvo do tsunami
Luciano Siqueira
Publicado no portal Brasil 247
É como numa embarcação em mar revolto, sujeito a severas tempestades, em que tripulantes e passageiros têm que combinar o modo de somar esforços para navegar na mesma direção e chegar a terra firme salvos e revigorados pela luta pela sobrevivência. O Brasil navega sob as turbulências da crise global, que atravessa uma segunda fase de agudização tendo como foco os países da Zona do Euro, com repercussões sobre todo o sistema. E enquanto alguns barcos mundo afora fazem água – como a Grécia, a Espanha, a Itália e outros tantos -, nós podemos sair dessa sem grandes avarias e ainda fortalecidos no concerto internacional.
A presidenta Dilma enxerga isso, como Lula enxergou na primeira eclosão da crise, em 2008, ao modo como – noutras circunstâncias, bem diversas, mas de certo modo semelhantes – Getúlio Vargas fez quando a segunda guerra mundial. Aproveitar a crise para fortalecer a Nação.
Por isso o governo acusa os efeitos nocivos das pressões externas, anota queda relativa da produção industrial, rever metas de crescimento, mas não se deixa acuar, segue adiante. Nesse contexto se insere a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), quarta-feira, a última do ano, que promoveu a terceira redução consecutiva de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic), que recuou de 11,5% para 11% ao ano.
Pouco? Sim, mas de sentido inegavelmente positivo porque traduz o esforço, no atual governo, de entrosar o Ministério da Fazenda e o Banco Central no intuito de articular a política fiscal com a política monetária de modo a viabilizar uma queda sequenciada dos juros e controlar a inflação. E, assim, persistir nas metas de crescimento e de geração de empregos.
Politicamente não tem sido simples avançar nessa direção. Tem a grita da oposição, que mesmo combalida e sem rumo, é inflada pela grande mídia (fazendo o papel de partido político), que a direciona. E tem também muita resistência no interior do governo e da coalizão partidária que o sustenta.
De toda sorte, vai se impondo aos poucos a percepção de que a queda progressiva dos juros, a desindexação da dívida pública da taxa Selic e a adoção de mecanismos que assegurem um câmbio competitivo podem propiciar o crescimento persistente dos investimentos, da geração de empregos e, mediante a pressão dos que vivem do trabalho, a melhoria da distribuição da renda e a valorização da massa salarial.
Isto põe na ordem do dia um novo pacto político - amplo, plural, que faça convergir todos os segmentos da sociedade verdadeiramente interessados no desenvolvimento, incluindo o empresariado do setor produtivo e os trabalhadores, deixando de fora o setor rentista que teima em sobrepor a usura à produção.
Uma espécie de “Nova Carta aos Brasileiros”, agora não mais destinada a acalmar o sistema financeiro (como na primeira eleição de Lula à presidência). O mundo está mudando, o Brasil trilha seu próprio caminho – e é preciso avançar.
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