Luciano Siqueira
Publicado no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)
Nunca é demais reafirmar que na vida o gesto vale mais do que mil palavras. Nesta quarta-feira, a Assembleia Legislativa pratica um gesto de reconhecimento ao valor da palavra – quando ouvida com atenção e pronunciada com sinceridade – como expressão da condição humana. Por proposição nossa, com a aprovação unânime dos demais quarenta e oito deputados, acontece hoje, às 18 horas, sessão solene para assinalar os 50 anos de atividades no Brasil do CVV–Centro de Valorização da Vida.
A palavra como expressão da condição humana - atenta, paciente, solidária - é o que materializa a missão do CVV, instituição de natureza filantrópica, que além da unidade do Recife engloba mais 69 outras em várias partes do País, sustentadas por 1.800 voluntários.
O CVV nasceu justamente da constatação do crescente número de suicídios verificados, sobretudo nas grandes brasileiras - 33,5% nos últimos 10 anos, quase o dobro do crescimento populacional. Em nossa cidade, o índice de 20% está acima da média.
Com a chamada explosão urbana verificada no Brasil entre os a nos 30 e 80, fruto de dois fatores principais – a industrialização e da ausência de um reforma agrária distributiva, que rompesse com o monopólio da propriedade territorial no campo - a relação entre população rural urbana se inverteu na de ordem de 80%. Em decorrência, avolumaram-se as carências físicas, urbanísticas e sociais na esteira do agravamento das contradições em torno do uso e da ocupação do solo. O mapa social de nossas metrópoles se apresenta extremamente desigual, no qual se percebem ilhas de abundância e largas faixas de pobreza e de miséria.
Demais, num mundo marcado pela concorrência exacerbada em todas as suas variantes – pelo espaço físico, por um posto de trabalho, por melhor remuneração, por ascensão funcional – e também pela violência e pela insegurança, a solidão sobrevém com componente das relações humanas.
Solidão de quem vive literalmente só; solidão dos que, embora cercados de familiares, colegas de trabalho ou de escola, ou de vizinhos, guardam relações interpessoais apenas superficiais. Não há diálogo nem compartilhamento de agruras, alegrias, infortúnios e esperanças.
Quanta gente, em tais condições, se vê levada a níveis insuportáveis de angústia e ao desespero? E que, na ausência de quem lhe possa ouvir, muitas vezes tão somente ouvir, atenta contra a própria vida?
Nesse cenário psicossocial os voluntários do CVV cumprem um inestimável papel na defesa da vida, frequentemente convertidos na última possibilidade de diálogo. E porque ouvem pacientemente, possibilitam vazão de sentimentos e alívio a quem lhes procura. Praticam, assim, ininterruptamente – porque o CVV atende durante as vinte a quatros horas do dia – atos cotidianos de solidariedade humana.
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