Plínio Palhano, artista Plástico
Publicado no Diário de Pernambuco
O artista Pablo Picasso (1881-1973) já fazia, com quatorze anos, uma pintura madura, com uma concepção privilegiada do olhar, apesar da tenra idade. Nesse período, influenciado pelo pai, Dom José Ruiz Blasco, pintor e professor de desenho, assinava as obras como Pablo Ruiz, a exemplo da pintura Primeira Comunhão, em cuja tela estão representados, segundo rígidos padrões acadêmicos, o pai e a irmã, Lola; com ela, foi admitido na Escola de Belas-Artes de Barcelona, onde se destacou como um dos estudantes mais talentosos.
O considerável acervo que a família conseguiu preservar dos primeiros ensaios de Pablo nas artes visuais, como criança e adolescente, foi posteriormente doado ao Museu Picasso: 213 pinturas a óleo sobre tela, cartão ou outros materiais; 681 desenhos, pastéis e aquarelas sobre papel; 17 cadernos de esboços e álbuns; 4 livros ilustrados de desenhos; uma água-forte; e diversos objetos. Num desabafo, Picasso diz de si próprio esta fase: “É bastante surpreendente que eu jamais tenha feito desenhos infantis. Nunca. Nem mesmo quando eu era um rapazinho”.
Tudo foi muito acelerado no processo de sua obra em 81 anos de trabalho e 92 de longa a vida, porque com 11 já estava criando obras, como atesta o acervo dessa época. Sua mente não comportava os cânones acadêmicos, estava muito além daquelas regras e do tempo, que não o acompanhava. Uma das últimas pinturas com esse perfil teve como título Ciência e Caridade (onde também estavam representados o pai e a irmã), pela qual recebeu comentários elogiosos e uma medalha de ouro em Málaga. Ainda ganhou outras medalhas na própria Málaga e em Madri, com o quadro Costumes de Aragão. Foi, então, incentivado a fazer o concurso na classe superior da Real Academia de Belas-Artes de San Fernando, em Madri, mas logo se decepcionou com aquele ensino acadêmico, abandonando a Academia para grande desgosto do pai.
À medida que Pablo vai se distanciando do universo acadêmico de Dom José Ruiz Blasco, assume o nome da mãe, assinando, aos poucos, P. Ruiz Picasso, P. Picasso ou simplesmente Picasso. É a partir daí que expressa a sua personalidade definitiva como artista. Em Barcelona, é aceito num círculo de intelectuais do café-cabaré El Quatre Gats, entre eles o seu futuro fiel secretário, Jaime Sabartés, o pintor Carlos Casagemas — que se suicidaria em Paris, o que para Picasso será um fato traumático a ponto de fazer uma obra em sua homenagem, Evocação: O enterro de Casagemas — e os irmãos Fernández de Soto.
Paris foi o seu mundo, estava destinado a ele. Foi ali que manteve contato com toda arte e com artistas que lhe dariam respaldo para ser o Picasso de sempre: com o cubismo, as esculturas, as experiências pictóricas, gráficas, deixando o gênio livre para inventar até o final da sua vida.
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