Inevitável polarização
Luciano Siqueira, no Vermelho
Em
certa medida, a assertiva de Marx, no 18 Brumário de Luís Bonaparte, de que o
curso dos acontecimentos muitas vezes é determinado por fatores objetivos e
foge à vontade dos atores presentes na cena política, cabe na apreciação de um
fenômeno recorrente em eleições majoritárias no Brasil: a polarização entre
candidaturas que representam projetos opostos.
Vale
retomar o assunto agora porque tanto em relação à disputa presidencial como nos
estados, para os governos locais, há quem lastime a tendência natural à
polarização do embate entre duas das candidaturas postas, impossibilitando o
surgimento e a afirmação de uma pretensa "terceira via", assim
chamada para matizar uma hipotética proposta programática que se diferencie
essencialmente das demais, tanto à esquerda como à direita.
O
ex-governador Eduardo Campos, do PSB, ele próprio envolto nessa problemática
com sua postulação à presidência da República, tem feito referência ao tema,
afirmando ser negativo para o País o confronto PT X PSDB. - A sociedade
brasileira cansou dessa polarização, diz ele. E, a seu modo, tem procurado
abrir espaço ora elevando o tom do combate à presidenta Dilma Rousseff, ora
adotando súbita agressividade contra o senador Aécio Neves, do PSDB, com quem
disputa diretamente o segundo lugar no pódio, tendo em vista forçar um segundo
turno.
Não
tem sido fácil. Por um lado, porque o próprio Eduardo e seu partido ajudaram a
construir as mudanças que ocorrem desde o primeiro governo Lula, que prosseguem
com Dilma, permanecendo, inclusive, na coalizão governista até outubro do ano
passado. Por outro lado, em razão de semelhanças evidentes entre o atual
discurso do PSB e o do PSDB no que se refere aos rumos da economia.
Apoiado
nessas semelhanças, Aécio manobra justamente para acentuá-las, evitando assim
perder para o socialista parte de sua base eleitoral. A ponto de dizer, em
ilhéus, em evento recente, que se considerava em relação a Eduardo não um
adversário, mas sim "um parceiro do mesmo sonho".
A
reação ríspida da ex-senadora Marina, endossada pelo próprio Eduardo, a essa
declaração do tucano reflete exatamente a necessidade de se diferenciar e
alimentar o desejo de fazer vingar uma terceira alternativa.
Ora, a
questão de fundo é de natureza objetiva. O Brasil vive uma encruzilhada: ou dá
sequência às transformações em curso, no rumo de um novo projeto nacional de
desenvolvimento; ou retrocede ao figurino neoliberal, que nos dois governos FHC
consolidou as quase três décadas perdidas. A raiz da polarização está aí - e
não na vontade subjetiva de petistas e tucanos, nem tampouco em artifícios
midiáticos.
Aí
também reside a essência do confronto de outubro, para muito além do desenho
caleidoscópico das coligações celebradas em torno das candidaturas
presidenciais. As circunstâncias históricas levam a que o PSDB lidere a
coalizão que defende o retorno ao modelo fracassado; e que o PT hegemonize a
coalizão que peleja pela continuidade do novo modelo de desenvolvimento em
construção.
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