O Brasil tem bons indicadores
O Brasil é um dos poucos países que atravessou a crise internacional e não sofreu recessão ou pressão inflacionária, nem reversão no nível de emprego.
Por José Carlos Peliano, na Carta Maior
Os indicadores econômicos do Brasil são bons e confiáveis. Depois de se sustentar diante da crise internacional e se manter com taxas menores de crescimento, emprego idem, mas baixo desemprego e distribuição de renda favorável, o país está em marcha lenta, mas controlada, juntando forças para novo período de expansão.
Um dos poucos países que não sofreu recessão ou pressão inflacionária, nem reversão no nível de emprego, tampouco foi forçado a buscar crédito nos bancos internacionais para cobertura de compromissos assumidos. Tal qual aconteceu com vários países especialmente os europeus.
Ok. As contas estão justas, apertadas. A inflação sob controle ainda dentro da meta, nível atualmente baixo de crescimento do emprego, mas sem dispensa significativa de trabalhadores, produto interno bruto com sinais positivos mesmo com pouca expansão. A balança comercial se aperta mais porque depende também o país da situação econômica desconfortável dos demais. As exportações perdem terreno aqui e ali mas sem sair do rumo. Somando tudo, porém, o quadro é de expectativa no sentido de que o Brasil tem todas as condições de alavancar novo ritmo de crescimento. É só permanecer atento.
Vamos aos números. Segundo o IBGE, nos 12 meses encerrados em março último o nível do emprego industrial reduziu 1,4%. A queda maior se deu em São Paulo e no setor de máquinas e equipamentos. Exatamente na região mais desenvolvida e no setor de bens de capital, principais motores da economia nacional. Calçados e couro também reduziram a expansão. Ou seja, os resultados desses setores indicam que tanto a própria indústria se ajusta ao cenário cuidadoso e difícil quanto as famílias controlam mais de perto seus orçamentos.
Seguindo rota semelhante, o número de horas pagas arrefeceu também o mesmo 1,4% no período anterior de 1 ano. A compatibilidade de igual percentual nas duas categorias, emprego e horas pagas, indica que houve paridade entre as dispensas e os salários não mais pagos. O que significa dizer que no conjunto a queda no emprego se deu eminentemente por ajustes localizados de produção, não se deveu a perturbações de mercado mais radicais.
Surpreendentemente no mesmo período dos últimos 12 meses a folha de pagamento real da indústria aumentou no mesmo percentual, também 1,4%. É possível e bastante provável que a dispensa de trabalhadores tenha se dado nas ocupações básicas ou flexíveis, ou seja, aquelas nas quais os operadores possam ser substituídos por outros internamente sem prejuízos para a continuidade das tarefas. Enquanto permaneceram aqueles trabalhadores de postos de trabalho mais especializados, cujas eventuais substituições são mais difíceis de manterem a mesma qualidade de produção.
Então, os números do IBGE divulgados hoje, 13 de maio, sobre o comportamento do emprego industrial revelam de fato e de direito um ajuste que o mercado vem fazendo ao momento econômico. Ajuste este de duas faces. A primeira tradicional, mas apenas reacional, aquela em que se reduz o aquecimento da produção para ver o que vai ocorrer daí para a frente. A segunda, tradicional mas estudada, aquela em que as mudanças efetuadas na linha de produção não afetam a eventual retomada caso bons ventos voltem a soprar. A primeira quantitativa, a segunda qualitativa.
O motor da economia brasileira, portanto, continua ligado, em marcha mais lenta que a precedente, mas pronto para imprimir velocidade mais acentuada tão logo haja sinais de recuperação. Muitos deles já dados. Os novos investimentos feitos para a Copa, por exemplo, ao mesmo tempo para as Olimpíadas, começaram já a ser pagos e distribuídos a grande parte dos setores industriais, incluindo os salários e remunerações, envolvidos nos projetos.
Outros setores têm tido desempenho confortável como a produção naval, petróleo e gás e automobilística. Seus efeitos, no entanto, são diferenciados no tempo, alguns investimentos impactam logo a economia, outros são mais defasados.
A grande questão é quando volta a se dar a retomada das demais economias para que a brasileira volte a ter o pique anterior. O mercado interno já se mostrou capaz de sustentar a expansão econômica brasileira por muito tempo e ainda a mantém agora em ritmo mais lento. Quando a China, a Zona do Euro e os EUA voltarem ao cenário com maior pujança econômica certamente as exportações brasileiras voltarão a crescer e a ajudar a puxar a produção industrial.
A retomada da Zona do Euro deve demorar. Números recentes (World Economic Monitor, CPB Holanda) mostram o quadro de descompasso entre o nível do comércio mundial (WT) e o produto nacional bruto (PNB) daqueles países. Entre 1992 e 2007, o WT cresceu 7,1% e o PNB 3,7%, já entre 2008 e 2013 o WT cresce 2,8% e o PNB 2,9%. Assim, enquanto no primeiro período o comércio mundial daqueles países impulsiona e puxa o produto, no período atual a perda no comércio mundial desestimula o impulso ao produto e os dois apenas andam lado a lado e devagar no mesmo nível.
É claro que na Zona do Euro há países de economias fortes tipo Alemanha, França e Inglaterra. Daí ser possível mesclar seus crescimentos maiores com os demais países de crescimentos menores, uns sustentando os outros e, ao final, apresentarem uma taxa de crescimento razoável do conjunto. Não é o caso de apenas um país. Daí a comparação com a Zona do Euro ser injusta para o Brasil, embora importante para mostrar que, apesar de tudo, o país está em situação semelhante àqueles. Todos em ritmo de espera do que o futuro econômico trará. A economia brasileira já mais ajustada, a da Zona do Euro ainda descompensada.
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