12 setembro 2017

Faces da resistência

Duas trincheiras em cenário de crise
Luciano Siqueira

Certamente um dos traços mais marcantes da realidade brasileira imediata é a mediocridade.

Ou seja, quase ninguém enxerga para além do próprio nariz. Vale para a presidência da República, para as principais instâncias do Judiciário e para o Parlamento. O casuísmo imediatista é a regra.

Tudo gira em torno da profusão de delações ditas premiadas — sem que se separe o joio e o trigo, erroneamente considerando que a palavra do delator dispensa provas — e suas repercussões no Palácio do Planalto e no Congresso Nacional.

Mesmo o Judiciário, que na atual conjuntura detém a iniciativa política e que, no dizer do ministro Fux, do STF, seria "a única instituição apta a promover a superação da crise" (não apoiado!), tudo indica que sofrerá o impacto dos tais áudios do pessoal da JBS e, na mesma vala, dos cadernos de notas de outros delatores.

Segundo a colunista Mônica Bérgamo, sempre bem informada, o ministro Gilmar Mendes estaria dando como certo que em algum momento terá sido grampeado em conversas com o advogado da JBS e um dos irmãos Batista.

Essa é uma das trincheiras mais movimentadas no cenário crítico que atravessamos.

Na outra trincheira, nem sempre visível ou obscurecida pelo ininterrupto tiroteio em torno dos supostos ou verdadeiros casos de corrupção, trava-se a batalha realmente decisiva para os rumos do país. 

Temer e seu grupo, guardando absoluta fidelidade ao Mercado e à elite oligárquica tupiniquim, segue a agenda regressiva e antinacional, com destaque para o programa de privatizações de conteúdo nitidamente lesa-pátria.

Isso implica, da parte das oposições o combate consistente e firme, seja na esfera parlamentar, seja nos salões, nas redes e nas ruas.

Entretanto, as forças sociais e políticas situadas na oposição ainda não ultrapassaram uma fase, digamos, primária — cada uma reage como pode e da forma que considera imediatamente viável.

Mas urge ampliar o debate no terreno das ideias com vistas à construção de um ideário comum que sirva de bandeira à arregimentação de amplos segmentos da sociedade em torno de um projeto político eleitoral viável em 2018.

Esse debate antecede a definição de candidaturas presidenciais, que quando postas – como a de Lula, desejada pelo PT – devem ser tratadas como “pré” e levadas à mesa dos entendimentos, impreterivelmente associadas a propostas de superação da crise. 


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