As mãos e as vozes que
empurraram o reitor da UFSC para a morte
Por Luís
Nassif
Luís Roberto Barroso tem fixação por sua imagem pública. Algumas
denúncias estampadas em blogs de Curitiba, encampadas pelos blogueiros
de Veja, foram suficientes para deixa-lo de joelhos. As denúncias falavam
da compra de um apartamento em Miami pela senhora Barroso, através de
uma offshore. Mesmo casados em comunhão de bens, compartilhando um
escritório bem-sucedido, o nome de Barroso não entrou na história, até o
eixo Curitiba-Veja entrar no tema.
E o Ministro Barroso decidiu defender sua imagem com as armas que
conhecia: abandonou suas teses legalistas, seu passado garantista e
decidiu aderir aos agressores. Sua estreia se deu na votação
da autorização para a prisão do réu após condenação em Segunda Instância.Dali
em diante, surgiu um novo Barroso, defensor dos métodos policiais, punitivista
convicto, defensor da tese de que ou o Brasil acabava com a corrupção ou a
corrupção com o Brasil. Não a corrupção corporativa de seus clientes, ele
que se vangloria de preparar anteprojetos de lei para que os
clientes possam oferecer a seus deputados de estimação; não a do Poder
Judiciário, ou mesmo a impunidade sua ex-cliente, a Globo. Mas a corrupção
do inimigo, a defesa do direito penal do inimigo que chegou ao auge com
sua defesa explícita do Estado de Exceção.
Desde então, Barroso se tornou o guru da Lava Jato e dos punitivistas do
Ministério Público Federal, o profeta do Estado de Exceção, o principal
estimulador das bestas que habitam os porões, onde nenhum direito é
respeitado. Suas frases se tornaram os bordões prediletos dos procuradores nas
redes sociais, o alimento legal que engordava os monstros gerados da
barriga da Lava Jato.
E das entranhas da Lava Jato a delegada da Polícia Federal Erika Marena
saiu de Curitiba e transportou os métodos da Lava Jato para Santa
Catarina. Estrela de cinema, tinha que manter a fama de
implacável. Lá, encontrou como chefe o delegado Marcelo Mosele que,
ao assumir a superintendência da PF em Santa Catarina, discursou afirmando
que a corrupção é a maior ameaça à humanidade. Era esse o clima dominante na PF
quando chegaram denúncias envolvendo a Universidade Federal de Santa
Catarina. Mencionavam desvios que teriam ocorrido desde 2006 nos cursos de educação
à distância. O reitor assumirá apenas em 2016.
No início, denúncias anônimas. Depois, denúncias personalizadas, uma da
professora Tais Dias, outra do corregedor da UFSC, Roberto Henkel do
Prado. Escolhido em uma lista tríplice, o corregedor responde ao reitor e
também à CGU (Controladoria Geral da União). Quando o reitor Luiz Carlos
Cancellier pediu acesso ao inquérito, imediatamente foi denunciado
por Henkel, como tentativa de obstrução da Justiça. Nesses tempos bicudos,
as longas mãos da CGU criaram núcleos de poder em cada universidade, e
Henkel pretendeu exercê-lo com a autoridade dos moralistas e com a
plenitude dos superpoderosos. Imediatamente obteve a adesão de Orlando Vieira
de Castro Jr, superintendente da CGU em Florianópolis. E o caso foi parar
com o procurador da República André Stefani Bertuol.
A Polícia Federal foi acionada e a sede de sangue atingiu a juíza
federal Janaína Cassol Machado, que, consultado o procurador Bertuol,
autorizou a prisão preventiva dos professores. Em Brasília, o eminente Ministro
Barroso despejava frases feitas:
- Para ser preso, no Brasil, precisa ser muito pobre ou muito mal
defendido.
Ou então: Pense o que você poder fazer diariamente pelo bem.
Lá embaixo, nos porões da nova ditadura, a delegada Marena, o delegado Mosele, comandavam policiais treinados nas artes da humilhação. Os professores foram despidos, ficaram nus, foram jogados em celas
Enquanto isto, Barroso, que se tornou um Ministro choroso quando a imprensa meramente flagrou-o em uma afirmação relativamente racista em relação a Joaquim Barbosa, que se desmanchou em lágrimas tal como uma donzela com a reputação colocava em dúvida, continuava lançando seus dardos no Olimpo e alimentando com princípios pútridos a carne que era servida às hienas.
Ou então: Pense o que você poder fazer diariamente pelo bem.
Lá embaixo, nos porões da nova ditadura, a delegada Marena, o delegado Mosele, comandavam policiais treinados nas artes da humilhação. Os professores foram despidos, ficaram nus, foram jogados em celas
Enquanto isto, Barroso, que se tornou um Ministro choroso quando a imprensa meramente flagrou-o em uma afirmação relativamente racista em relação a Joaquim Barbosa, que se desmanchou em lágrimas tal como uma donzela com a reputação colocava em dúvida, continuava lançando seus dardos no Olimpo e alimentando com princípios pútridos a carne que era servida às hienas.
No dia seguinte, uma juíza substituta, Marjorie Feriberg, ordenou a
libertação do grupo. Foi publicamente admoestada por Janaína, que se
atirou sobre ela como uma harpia da mitologia. Restou a Cancellier a única
saída que encontrou para a desonra que se abateu sobre ele: o suicídio.
Depois da tragédia, apareceram notícias dizendo que a única acusação
formal contra ele era a de ter impedido a investigação. Que seu sangue
caia sobre todos seus algozes. Mas, especialmente, sobre os que destruíram os
alicerces dos direitos individuais pensando exclusivamente em seus
próprios interesses.
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