Déspota
desastrado
Luciano Siqueira
A fórmula não
é nova – nem aqui nem alhures. Governantes crentes na própria popularidade e pouco
afeitos ao jogo democrático colidem abertamente com as instituições no intuito
de fazer crer que seus lídimos propósitos não se realizam porque a engrenagem estatal
não funciona.
Sendo assim,
por que não plenos poderes conferidos pela sociedade?
E o governante
eleito faz-se líder de golpe de Estado e se considera ungido pelo apoio
popular.
O capitão
reformado Jair Messias Bolsonaro certamente acredita ser mesmo um “mito”. E que
as bênçãos divinas, frequentemente renovadas em atos religiosos de
credibilidade mínima, haverão de protegê-lo em sua empreitada autoritária.
Não completou
ainda o primeiro ano de governo e quase semanalmente gera crises políticas, de
variadas montas, mediante atos e palavras.
De lambujem, segue
dispensando aliados antes tidos como de sua íntima confiança. Sequer respeita
os que envergam quatro estrelas na farda.
Num regime em
que as relações entre o Executivo e o Legislativo em grande medida dão o conteúdo
e o ritmo das ações de governo, desde o primeiro instante proclama sua recusa à
negociação e se diz avesso às dinâmicas partidárias.
Mas no meio
do caminho há algumas pedras.
O “mito” não
passa de personagem primária, de um reducionismo precário em todos os temas, sem
noção da dimensão do cargo que ocupa.
Incapaz de
lidar com contradições próprias do processo democrático, busca agasalhar-se nos
pouco mais de vinte por cento da população que acriticamente o segue, turbinada
por concepções retrógradas, pelo preconceito e pela intolerância.
Mas a conta
tende a não fechar. Vai perdendo apoios e a sua credibilidade (se já a teve) se
esgarça a cada lance de seus impropérios.
Em perspectiva,
tende a se isolar. Inclusive pela agenda econômica sob o comando quase imperial
do ministro Paulo Guedes e seu grupo, empenhados na montagem de um quebra
cabeças cujas peças não se ajustam. Políticas ultraliberais em país periférico,
carente de dinamismo estatal e estancado por empecilhos estruturais, não
dialogam com o crescimento econômico nem com as necessidades e expectativas da
maioria social.
O lance mais
recente do capitão mira a legenda pela qual se elegeu, o PSL, sugerindo que
pode dispensá-la e fundar outra para chamar de sua. Isso enquanto o País afunda
em crise.
Do lado de cá
da equação - o campo oposicionista -, um mínimo de espírito patriótico haveria
de conduzir ao ajuntamento de forças no intuito de isolar, enfraquecer e derrotar
o desastrado adversário. Mas aí também fluem contradições e disputas
inconsequentes que também fazem parte do drama atual da brava gente brasileira.
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