02 maio 2021

Plano tático

O futebol é complexo, nós é que tentamos simplificá-lo com racionalizações

Em algumas partidas, o planejamento tático é determinante para a atuação e o resultado

Tostão, Folha de S. Paulo

 

 

São tantos jogos que não sei quais vejo. Em algumas partidas, pode-se afirmar, com convicção, que o planejamento tático, feito especialmente para aquele momento, foi determinante para a atuação e/ou o resultado, embora as decisões em campo sejam fundamentais. Os atletas são os avalizadores dos treinadores.

É óbvio que, para se formar um grande time, é preciso ter excelentes jogadores e um bom treinador. É evidente também que os craques brilham mais quando atuam em equipes com bom conjunto.

Na goleada por 5 a 0 do Palmeiras sobre o Independiente del Valle, os planos de Abel Ferreira de pressionar, de recuperar a bola e de enfiá-la, rapidamente, entre os zagueiros adiantados, foram decisivos. Isso não significa que, sempre que os dois times se enfrentarem e usarem a mesma estratégia, vai ser dessa maneira.

O Grêmio, nas duas derrotas para o time equatoriano, pela Libertadores, teve também chances, pelo mesmo motivo, mas não aproveitou, por erros individuais. Cada partida tem sua história, já disseram os ingleses, há quase 150 anos, em 1863, quando fundaram a primeira associação de futebol do mundo.

Como o Palmeiras prioriza demais o contra-ataque, pois tem jogadores com características para isso, o time fica confuso, perdido, quando não é possível jogar assim. É uma das razões de alternar ótimos e maus resultados e atuações.

Na vitória por 2 a 1, de virada, do Manchester City sobre o PSG, a estratégia dos franceses de esperar para contra-atacar, que tinha dado certo contra o Bayern, não funcionou bem, especialmente no segundo tempo. O Manchester City dominou a partida e tomou facilmente a bola, embora os dois gols tenham saído de lances isolados, e não porque o ataque envolveu a defesa do PSG.

Na terça-feira (4), mesmo que os times mantenham a mesma estratégia e escalação, a história do jogo pode ser outra. Penso que o City, que dá um show de jogo coletivo, em vez de só ter armadores do meio para frente, ficaria ainda mais forte e faria mais gols com pelo menos um atacante mais rápido, que se infiltrasse para receber a bola na frente, como Gabriel Jesus, Sterling ou Agüero. Os três têm ficado fora.

Nos dois jogos pelas semifinais da Liga dos Campeões da Europa, os quatro times deram aula para os treinadores brasileiros de como adiantar a marcação e deixar menos espaços entre os setores, com os zagueiros posicionados entre a grande área e o meio-campo. Para isso, é necessário ter também um goleiro rápido e atento.

Um time ganha e perde e joga bem e joga mal de várias maneiras.

A moda é elogiar excessivamente o esquema com três zagueiros, como têm jogado São Paulo, Palmeiras e várias equipes da Europa. O São Paulo não tem vencido somente porque joga com três zagueiros e dois ótimos alas. A equipe, entre outras qualidades, pressiona e recupera rapidamente a bola.

Daniel Alves, que foi o principal jogador do meio-campo, centralizado, com Fernando Diniz, está ainda melhor como ala-armador, pelo lado e pela meia direita. Se a Copa fosse hoje, teria de ser titular da seleção.

Com três zagueiros, o time pode ficar mais ofensivo, se tiver alas e jogadores de meio-campo que avancem com talento, ou mais defensivo, se os alas marcarem muito atrás, formando uma linha de cinco. Nessa situação, troca-se um meia ou um atacante por mais um defensor.

O futebol é muito complexo. Nós é que tentamos simplificá-lo, com nossas racionalizações e pretensiosos conhecimentos.

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