Mulheres
no alvo das mudanças climáticas
Cida Pedrosa*, Brasil de Fato
O maior
evento sobre clima no mundo, a COP-26, está se desenrolando em Glasgow, na
Escócia, com a presença dos maiores líderes políticos do planeta. Alguns
consideram que talvez esta seja a última oportunidade para deter os fatores que
aceleram as mudanças climáticas, ameaçando muitas formas de vida na Terra. Da
conferência, muita gente já ouviu falar. O que poucos sabem é que as
intempéries do clima, causadas sobretudo pelo mau uso de recursos naturais
pelos humanos, afetam principalmente as mulheres e meninas.
As mudanças climáticas não resultarão apenas
em dias mais quentes, secas severas, descongelamento das calotas polares e
inundações. Para muitas pessoas que vivem em áreas como o Nordeste brasileiro,
podem representar falta de alimentos causada pela perda de safra ou dificuldade
de acesso à água potável. Como a maioria das pessoas pobres depende dos
recursos naturais para sobreviver, a falta deles obriga a uma dramática mudança
na rotina.
A desigualdade social – marcada pela
concentração de renda – e de gênero tornam os pobres, em especial, as mulheres,
os principais afetados pelo famigerado aquecimento global. Afinal, são elas que
se responsabilizam quase que integralmente pelos cuidados com a casa e a
família. Quando falta água, precisam se deslocar quilômetros para conseguir um
balde que seja e garantir a alimentação do dia. E isso não ocorre apenas em
áreas rurais.
Na periferia das grandes cidades, onde a
infraestrutura é precária, a situação se repete. Como os homens raramente
ajudam nessas tarefas, as filhas meninas acabam deixando a escola para dar
suporte à mãe na manutenção do lar. Fora da escola, ficam mais sujeitas a
abusos e a toda sorte de violência doméstica.
Em alguns países, por questões religiosas ou
culturais, a situação é ainda mais dramática. Segundo a Action Aid, nove em
cada dez nações do mundo têm leis que dificultam o acesso das mulheres ao
mercado de trabalho. Leis que as impedem de trabalhar em fábrica, à noite ou
sem a permissão do marido. Assim, resta buscar o que a terra oferece. Quando
não puder mais oferecer, não haverá alternativa de subsistência.
Se, por um lado, as mulheres são minoria entre
os que decidem os destinos do planeta, por outro são as mais afetadas pelas
decisões que os homens de poder tomam diariamente. Como “administradoras” dos
recursos naturais do planeta, suas vozes deveriam ser ouvidas com mais atenção
em uma conferência global sobre mudanças climáticas, pois apesar de sofrerem as
agruras da falta de água e de alimentos, elas não se conformam na posição de
vítimas. Pelo contrário, são buscadoras de soluções porque compreendem a
extensão do problema e sua responsabilidade na questão. Se o planeta clama por
socorro, nenhuma ajuda será eficaz sem a cooperação, a visão e a voz das
mulheres de todas as cores, raças e etnias.
*Poeta, vereadora do Recife (PCdoB)
Quando puder veja: A poeta
sertaneja que se tornou universal https://bit.ly/3BKdwhd
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