Quem não conhece futebol, nem
sabe observá-lo, agarra-se aos números
Estatísticas são
importantíssimas só com boas amostragens e bem utilizadas
Tostão/Folha de S. Paulo
Os sete times brasileiros, como tem sido habitual, são candidatos ao título da Libertadores. Palmeiras e Flamengo são
os mais fortes, independentemente dos resultados deste fim de semana pelos
estaduais. O Flamengo possui um elenco melhor, mas a equipe titular do
Palmeiras tem mais conjunto, joga cada partida como se fosse a última, além de
ter a melhor defesa e o melhor goleiro da América do Sul. Do meio para a
frente, quase todos os jogadores do Palmeiras estão entre os melhores da
posição.
Gabriel Menino tem evoluído. Penso apenas que ele avança demais
antes de a bola chegar ao ataque. Na sua posição é essencial marcar, construir
as jogadas e trocar passes. O futebol brasileiro precisa libertar-se do chavão
de que a troca de passes e o domínio da bola no meio-campo atrasa a transição
rápida para chegar ao gol. A sabedoria é ter a bola e acelerar no momento
certo.
O Corinthians,
pela qualidade do elenco, pode jogar de maneira melhor e com mais regularidade.
Para isso, necessita resolver o problema da carência afetiva que tem dos
torcedores quando joga fora de casa. O time, como é comum no Brasil, deixa
muitos espaços entre a defesa e o meio. Os meio-campistas avançam, e os
zagueiros ficam colados à grande área. Além disso, eles se acostumaram durante
décadas a jogar protegidos pelos volantes.
Independentemente da atuação deste sábado (1º) contra o América,
o Atlético-MG também precisa evoluir. A dupla de atacantes com Hulk e Paulinho
tem sido o destaque da equipe. Os três meias são mais atacantes que armadores,
o que deixa o meio-campo pouco preenchido, com o volante (Allan ou Otávio)
sozinho para marcar pelo centro e fazer a transição da bola da defesa para o
ataque.
O Fluminense é um time definido na maneira de jogar, com muitos
bons jogadores, que prioriza a aproximação no meio-campo para trocar passes,
diferentemente de quase todas as outras equipes brasileiras. O time pode ficar
ainda melhor com Marcelo, desde que não se crie uma expectativa muito acima da
realidade, como ocorreu com Daniel Alves no São Paulo. O esplendor técnico de
Marcelo já aconteceu, há bastante tempo, e está na nossa memória.
O Inter, apesar de não estar na final do Campeonato Gaúcho, fez
ótima campanha no Brasileirão e pode repeti-la na Libertadores. Existem bons
jogadores, uma estratégia definida e um treinador bom e experiente, Mano
Menezes.
O Athletico-PR, que já é um dos grandes do futebol brasileiro,
planeja e sonha alto há muito tempo ser campeão da Libertadores. É possível,
mas muito pouco provável, pois a qualidade do elenco é ainda bastante inferior
à das principais equipes.
Os times brasileiros precisam evoluir, não se contentar com a
superioridade na América do Sul. Não há mais lugar para os goleiros
que não sabem jogar fora do gol, os zagueiros colados à grande área, os grandes
espaços deixados entre os setores, os exagerados cruzamentos para a área, para
contar com a sorte, e a pouca troca de passes, sem domínio da bola no
meio-campo. Não há lugar também para violência, atos racistas e homofóbicos e
assédios morais e sexuais nos estádios de futebol.
Não há lugar ainda para a grande valorização das comparações
baseadas em estatísticas com pequenas amostragens. As estatísticas são
importantíssimas quando bem utilizadas. Além disso, o jogo tem inúmeros
detalhes, compreensões e fatores inesperados. Quem não conhece, nem sabe
observar, agarra-se aos números.
Impossível explicar a vida num verso
curto https://bit.ly/3Ye45TD
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