A insana aventura da Otan no Pacífico
Após guerra por procuração com a Rússia, EUA forçam novos atritos com a China. Submetem Austrália e Japão – e rejeitam diplomacia e paz. Inconsequência escancara: burocracia militar está no comando da política externa de Washington
Jeffrey D. Sachs | Tradução: Maurício Ayer/OutrasPalavras
[Este texto é a transcrição do discurso proferido por Jeffrey Sachs no seminário Salvando a Humanidade e o Planeta Terra [Saving Humanity and Planet Earth, SHAPE], que aconteceu em Melbourne, na Austrália, em 5 de julho de 2023.]
Boa tarde a todos. Quero agradecer ao SHAPE [seminário Salvando a Humanidade e o Planeta Terra, Saving Humanity and Planet Earth] pelo convite e, especialmente, pela liderança neste processo. Tive o privilégio de ouvir Alison Broinowski e Chung-in Moon. Fomos presenteados com falas brilhantes e perspicazes. Concordo absolutamente com tudo o que foi dito. O mundo enlouqueceu, mas, isso vale especialmente para o mundo anglo-saxão. Não sei se há algum sentido em nossos pedaços de mundo onde se fala inglês. Claro que estou falando de Estados Unidos, Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia.
Há algo profundamente desalentador na política de nossos países no momento. A profunda insanidade, receio, consiste no pensamento imperial britânico que foi assumido pelos Estados Unidos. Meu país, os EUA, está irreconhecível, mesmo em comparação com 20 ou 30 anos atrás. Para falar a verdade, não tenho certeza de quem governa o país. Não acredito que seja o presidente dos Estados Unidos. Somos comandados por generais, por nossa burocracia de segurança. O público não tem conhecimento de nada. As mentiras que são contadas sobre política externa são diárias e difundidas por uma grande mídia que mal consigo continuar a ouvir ou ler. O New York Times, o Washington Post, o Wall Street Journal e os principais canais de televisão estão 100% repetindo a propaganda governamental todos os dias, e é quase impossível romper essa barreira.
O que é isso? Bem, como vocês ouviram, trata-se da insanidade dos Estados Unidos por manter a sua hegemonia global, uma política externa militarizada – dominada pelo pensamento de generais que são intelectos medíocres, pessoalmente gananciosos – e sem sentido porque seu único modus operandi é fazer a guerra.
E eles são seguidos cegamente pela Grã-Bretanha, que infelizmente, ao longo da minha vida adulta, vi tornar-se cada vez mais patética, como uma líder de torcida dos Estados Unidos, gritando pela hegemonia dos EUA e pela guerra. Não importa o que digam os EUA, a Grã-Bretanha repetirá com dez vezes mais entusiasmo. Os líderes do Reino Unido não poderiam amar mais a guerra na Ucrânia. Esta é a grande Segunda Guerra da Crimeia para a mídia britânica e para os líderes políticos britânicos.
Agora, como a Austrália e a Nova Zelândia caem nessa idiotice é realmente uma profunda questão para mim e para vocês. As pessoas deveriam saber melhor o que está acontecendo. Mas temo que seja a Aliança dos Cinco Olhos [Five Eyes, aliança entre EUA, Canadá, Reino Unido, Austrália e Nova Zelândia] e a estrutura de segurança que disseram aos políticos, na medida em que os políticos estão envolvidos nisso, “bem, é isso o que temos que fazer”. Este é o nosso Estado de Segurança e não acho que nossos políticos necessariamente tenham um papel muito relevante nisso. A propósito, o público não tem nenhum papel na política externa dos EUA. Não temos nenhum debate, nenhuma discussão, nenhuma deliberação, nenhum debate sobre a votação dos 100, agora US$ 113 bilh&otild e;es – na verdade, muito mais dinheiro – que foram gastos na Guerra da Ucrânia.
Até o presente, não houve sequer uma hora de debate organizado sobre isso, nem mesmo no Congresso, muito menos em público. Mas meu palpite é que burocracia de segurança [security establishment] é quem realmente conduz isso na Austrália. Eles explicam ao primeiro-ministro e a outros: “vocês sabem que esta é uma questão de segurança máxima nacional, e foi isso o que os EUA nos disseram. Deixe que nós, sua burocracia de segurança, expliquemos o que estamos vendo. Claro, você não pode divulgar isso para o público em geral, mas isso é, em essência, uma luta pela sobrevivência no mundo”.
A desafiante agenda do governo Lula https://bit.ly/3ZNEz7p
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