Riscos de espalhamento das abordagens assassinas
Enio Lins*
Todos os acontecimentos que venham a se repetir nos grandes centros precisam ser atentamente acompanhados pelas gestões nas demais áreas, pois a tendência das ocorrências (especialmente as maléficas) é se reproduzirem país afora.
Este é o caso dos assassinatos cometidos durante abordagens policiais. Especialmente o noticiário carioca vive repleto de tragédias desse tipo e – o mais preocupante – essa pauta não é estranha às páginas policiais alagoanas.
No Rio de Janeiro, um dos temas mais comentados durante a virada da semana foi a morte, no sábado, 16/09, da menina Heloísa dos Santos Silva, de 3 anos, atingida por um projétil disparado por um policial da PRF durante abordagem.
Heloísa foi baleada no feriado de 7 de setembro, estava no carro da família que trafegava na Baixada Fluminense. Segundo os policiais rodoviários federais que participaram do assassinato, o veículo seria roubado, o que teria motivado a ação.
No caso do carro ter sido efetivamente roubado, não se justificaria ser alvo de disparos de arma de fogo com munição letal, até porque os veículos da PRF são próprios para perseguição e as equipes policiais precisam estar treinadas para isso.
No cenário carioca, a morte da pequena Heloísa não é caso isolado, pois ela é a 11ª criança assassinada por disparo de arma de fogo neste ano. Segundo O Globo “esse número é quase três vezes maior do que o de todo o ano passado, que registrou quatro casos”.
Também no Rio de Janeiro, no dia 7 de abril de 2019, o músico Evaldo Rosa e o catador de material reciclável Luciano Macedo foram covardemente assassinados por uma patrulha do exército na Estrada do Camboatá, em plena luz do dia.
Nesse caso da “abordagem a carro suspeito”, foram disparados 80 tiros contra o veículo com Evaldo, o músico, no volante. Luciano, o catador, tentou socorrer as vítimas e foi trucidado sem pena. Tudo isso às 14:40 de um domingo.
Em Alagoas, o caso recente mais comentado foi o homicídio cometido contra o empresário Marcelo Leite, no dia 14 de novembro de 2022, alvejado com um tiro de fuzil nas costas durante uma abordagem policial em Arapiraca.
Assim, todo cuidado é pouco. Como o modelo de ocupação de bairros populares por traficantes, também exportado do eixo Rio/SP, esse formato de “bala perdida” e/ou “abordagem mortal” pode viralizar rapidamente.
*Arquiteto, jornalista, cartunista e ilustrador
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