Futebol também é um descuido prosseguido
Os treinadores vivem no limite, entre os elogios exagerados e as duras críticas
Tostão/Folha de S. Paulo
Depois de Dorival Júnior justificar umas mil vezes as más atuações com o argumento de que a seleção passa por um processo de evolução, outros treinadores brasileiros têm dado a mesma explicação para as derrotas. É o processo, a palavra da moda.
Botafogo e Palmeiras são os mais fortes candidatos ao título do Brasileirão. O Botafogo enfrenta nesta quarta (18) o São Paulo, pela Libertadores. O Fogão não é mais apenas um time eficiente, organizado, com muita força física e velocidade. Passou também a jogar com leveza e beleza. O São Paulo descansou ao colocar todos os reservas contra o Cruzeiro. Foi uma conduta errada que deu certo.
O Palmeiras, que disputa apenas o Brasileirão, tem grandes chances de crescer na reta final. Estêvão, Richard Ríos e Felipe Anderson evoluíram, como se esperava. Os três e mais Raphael Veiga vão formar um ótimo conjunto do meio para a frente. Maurício é bom, mas Veiga é muito superior.
O Flamengo está na disputa dos títulos do Brasileirão, da Copa do Brasil e da Libertadores, uma demonstração da qualidade do elenco. Quando o time não vence ou não joga bem, voltam o fantasma de Jorge Jesus e a crítica de que a equipe não brilha como em 2019.
Fortaleza e Bahia, dois clubes muito bem dirigidos dentro e fora de campo, possuem estratégias diferentes e jogam um bom futebol, com chances de conseguir uma vaga na Libertadores do próximo ano via Brasileirão.
O Fortaleza disputa o título da Copa Sul-Americana. É um time veloz, de transições rápidas da defesa para o ataque, enquanto o Bahia se destaca pela aproximação e pela troca de passes no meio-campo. Quando o Bahia não vence e não faz gols, criticam bastante a pouca eficiência da troca de passes. O problema não é o estilo, é a falta de mais talento no ataque.
O Cruzeiro contratou vários jogadores, tidos como reforços, e o time piorou. Repito, penso que houve um exagero nessa avaliação. Fora Bruno Henrique e, especialmente, Cássio, os novos contratados são mais ou menos do mesmo nível dos jogadores que o time já tinha nas posições. Com as novas opções, o jovem técnico Seabra ficou inseguro nas escalações e substituições. Não vejo motivo para jogarem juntos Walace e Lucas Romero, dois clássicos volantes.
Quem surpreende no Brasileirão e tem chances, mesmo pequenas, de ganhar o título da Copa do Brasil é o Vasco, que enfrenta o Atlético-MG na semifinal. O Galo vai muito mal no Brasileirão e muito bem na Copa do Brasil e na Libertadores. O elenco não é tão bom como se dizia. O time tem vários jogadores especiais, como Hulk, Paulinho, Scarpa, Arana e o goleiro Éverson. Porém os titulares das outras posições, assim como todos os reservas, são comuns.
Partidas entre equipes de níveis técnicos parecidos são geralmente decididas nos detalhes técnicos, táticos e por fatores imprevisíveis e surpreendentes. Os treinadores vivem no limite, entre os elogios exagerados e as duras críticas, independentemente das estratégias, escalações e substituições, já que há inúmeros outros fatores envolvidos.
As opiniões são quase sempre construídas a partir dos resultados, não dos desempenhos. Parafraseando João Guimarães Rosa, o jogo de futebol também é um "descuido prosseguido".
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