27 novembro 2024

Minha opinião

Falsa rebeldia neofascista*
Luciano Siqueira 

O discurso anti-establishment é uma componente do fascismo, sempre. 

Fez parte do ideário de Hitler e Mussolini e seus assemelhados no século passado. 

Retorna nessa terceira década do século 21 com a mesma essência, embora a roupagem possa ter traços peculiares de agora. 

Trata-se de condenar em regra o que está estabelecido e atrair multidões de incautos, especialmente numa faixa da população entre 40 e 55 anos (segundo algumas pesquisas) frustrada em seus planos de vida. 

E assim passar a impressão de que algo poderá substituir a ordem estabelecida, inclusive negando em regra a prática política vigente, para passar o conto do vigário de que o inteiramente novo está por acontecer. 

É a falsa rebeldia neofascista, cuja essência está na manutenção do status quo por regime ditatorial, sob hegemonia militar ou não.

O governo Bolsonaro foi um ensaio dessa lorota. Propunha-se erradicar a denominada "velha política" e substituí-la por uma "nova política", porém na prática assumiu todas as características do que há de mais retrógrado na sociedade brasileira. 

Não é à toa que o então presidente praticamente transferiu as rédeas do governo ao núcleo dirigente do "centrão" dominante na Câmara dos Deputados e no Senado e relegou a condução da economia nas mãos de um operador do mercado financeiro, ministro Paulo Guedes.

É nesse contexto ilusionista que o próprio Bolsonaro, agora mergulhado em poço de areia movediça enalameada e o ex-coach Pablo Marçal, o emergente candidato derrotado à prefeitura da capital paulista, disputam espaço. 

Ambos primam pelo uso inescrupuloso do que se tem chamado guerra cultural e discurso do ódio, nas redes sociais e através de estamentos razoavelmente disciplinados que se prestam a difundir seu ideário, tais como políciais militares e civis, evangélicos neopentecostais e parcelas das Forças Armadas.

Entrementes, as próprias contradições na corrente neofascista, que tendem a se acirrar na perspectiva da eleição presidencial de 2026, contribuem para revelar abertamente a essência do neofascismo brasileiro, tornando-o mais vulnerável a crítica sistemática do pensamento progressista e de esquerda. 

Este é um embate que, em parte, se fez presente nas eleições municipais e tende a se acirrar, inclusive sob o impacto das revelações da trama golpista na peça de indiciamento do ex-presidente e de cerca de 70 asseclas, produzida pela Polícia Federal. 

*Texto da minha coluna desta quinta-feira no portal Vermelho www.vermelho.org.br

Leia sobre mercado financeiro e fascismo https://lucianosiqueira.blogspot.com/2022/12/pressao-midiatica-rentista.html 

Nenhum comentário: