Batida em retirada
Tinha 14 anos
E uma timidez de dar medo.
Naquele bairro pobre
Chocolate era um deleite raro e nobre.
Nos monturos garimpei alumínio e cobre,
E apurei uma moeda de bronze.
No meu plano, não bastava o poema,
Era preciso outro presente.
Com minha moeda
Comprei uma barra ao leite.
De longe fiquei mirando-a
Como um lobo faminto e ferido
Espia sua caça.
Linda, uma flor humana,
Da cor do pôr do sol.
Ensaiei tanto, fiquei não sei quanto tempo
Criando coragem para me declarar.
Devia ajoelhar-me ou não?
A batalha estava adiada.
O sol e os hormônios derreteram
A barra na palma da minha mão.
Desajeitado, meu coração
Deu ordem de retirada.
Dali o garoto evadiu-se
Lambendo o que restara de sua munição.
[Ilustração: André Kohn]
[Ilustração: André Kohn]
Leia também o poema "Guardar", de Antonio Cícero https://lucianosiqueira.blogspot.com/2024/10/palavra-de-poeta-antonio-cicero.html
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