Crise de quê?*
Luciano Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
Vejo de relance na timeline do Instagram o anúncio, ou algo parecido, da
"crise dos quarentões".
Como assim?
Mais interessado em postagens da turma amiga, notícias do PCdoB e em
fotografias, não me permiti saber mesmo que "crise" é essa.
Suponho que seja o drama (!?) de quem caminha na quarta década de
vida.
Drama?
Sinceramente, estou na sétima década e desconheço essa modalidade de
crise.
Não que fuja das contingências da vida ou a simplifique em demasia,
inevitavelmente marcada pela contraditória relação entre o bom e o ruim, entre
o conforto e o desconforto, entre a paz de espírito e a inquietação...
Ao contrário, crises são meu objeto de estudo e de trabalho ao longo de
uma vida militante de quase seis décadas.
A crise da sociedade humana, seus males e as possibilidades de um passo
adiante na sua evolução.
A História nasce e renasce a cada crise, quando em dimensão estrutural e
sistêmica, contradições que se agudizam e se tornam inconciliáveis se fazem
parteiras de um novo ciclo.
Daí o empenho da classe dominante em preservar a hegemonia na sociedade
— sobretudo na esfera cultural e ideológica, justamente para impedir o levante
dos oprimidos e preservar a iníqua ordem vigente.
As transformações revolucionárias repelem relações econômicas e sociais
caducas e promovem a hegemonia do novo
mediante conflitos de variadas dimensões, incluindo a opção de vida de quem
abraça a causa.
Daí a falta de espaço espiritual para se enganchar em pequenos dramas
que, em última instância, se dão na limitada arena das pretensões meramente
individuais.
Quando se funde o próprio destino ao destino do povo, as tais crises
existenciais — imagino que a "dos quarentões" seja uma delas — não
encontram espaço na espiritualidade militante.
Então, para você que teve a paciência de me ler até aqui, apoio-me no
poeta Drummond e "desejo todas as cores desta vida,/todas as alegrias que
puder sorrir,/todas as músicas que puder emocionar."
*Texto da minha coluna semanal no portal Vermelho www.vermelho.org.br
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Leia também: "Cantiga para não morrer", poema de Ferreira Gullar https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/08/palavra-de-poeta_80.html
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