05 março 2008

Que história é essa?

No Blog de Jamildo (JC Online):
Uma realização de governo que alguns não querem ver
Luciano Siqueira

. O ambiente pré-eleitoral assanha o debate em torno da gestão que finda. Infelizmente, no que concerne à oposição, alimentado pela busca ansiosa de defeitos no que se fez, na cobrança freqüentemente distorcida sobre o que supostamente se deixou de fazer, deixando ao largo realizações de pouca ressonância na mídia, porém de considerável importância. E aí se produzem pérolas como a afirmação de que as obras realizadas por decisão da população através do mecanismo democrático do Orçamento Participativo não passariam de “maquiagem vagabunda” da cidade. Uma provocação que sequer merece resposta, tão rasteira e inconseqüente.
. Nesse contexto, cometo a ousadia de perguntar: numa perspectiva libertária, de médio e longo prazo, qual o saldo mais importante de um governo local assumidamente comprometido com a emancipação dos que vivem do trabalho? A resposta certamente em nada interessa aos que se situam no espectro político conservador; pois nos remete à formação de uma avançada consciência social, assentada no reconhecimento do cidadão como sujeito de direitos e partícipe da transformação da sociedade.
. Algo que não consta em relatórios de gestão, difícil de mensurar e de traduzir em gráficos ou tabelas – e que entretanto o prefeito João Paulo tem referido como a razão maior da obra de governo; e que abordei em artigo de junho de 2003, Que história é essa? (incluído no livro O Vermelho é Verde-Amarelo - 65 crônicas políticas, Editora Anita Garibaldi, São Paulo, 2005).
. No artigo anotamos que, na prática, muito mais simples é pavimentar ruas, ampliar as redes de educação e de saúde, recolher o lixo e manter praças e vias limpas. Essas coisas que o senso comum compreensivelmente espera do governante, visto como síndico da cidade. Difícil é encontrar oportunidades e formas de interagir com o cidadão de modo a construir um processo comum de aprendizado – técnicos e povo – que resulte na superação dos mecanismos usuais de dependência do indivíduo em relação ao Estado e na elevação da sua consciência política.
. Uma dessas oportunidades, na gestão comandada pelo prefeito João Paulo, é proporcionada pelo programa Que história é essa? , encetado pela Secretaria da Assistência Social, que inicia nova fase dia 12 próximo, por ocasião do aniversário da cidade.
. Que história é essa? é uma experiência inovadora, que funde fantasia, história e vivência da realidade presente, revelando suas contradições de classe, seus limites e possibilidades.
. O programa atende adolescentes de 15 a 18 anos, que participam de um jogo – o RPG Social – no qual “contracenam” com atores que encarnam personagens da História, reproduzindo cenas marcantes do passado, relacionando-as com a vida hoje. Nenhum deles é expectador. Todos tomam parte ativa na brincadeira. Para isso, submetem-se a uma preparação prévia de dois meses, discutindo os assuntos contidos numa espécie de cartilha e fazendo visitas monitoradas a locais que tenham a ver com o tema.
. No ciclo denominado “Saga negra”, por exemplo, num dado momento o ator que vive Joaquim Nabuco repete, no Teatro Santa Isabel, o famoso discurso abolicionista e, ao final, indaga: quem são os escravos de hoje? Em resposta, os jovens falam das atuais condições de existência do povo trabalhador e dos habitantes das áreas mais pobres da cidade. Discutem a realidade onde eles próprios estão inseridos. Desse modo, exercitam o senso crítico e a capacidade de reagirem em situações de conflito.
. Dentre eles alguns se revelam líderes natos, outros com talento para a poesia e as artes plásticas; e muitos despertam em si a consciência de que integram um povo de cuja história são herdeiros e continuadores.

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