A necessidade de um movimento em defesa do Centro do Recife
Luciano Siqueira
O tema é recorrente porque crônico e de natureza estrutural: a tendência quase que inevitável ao esvaziamento e à degradação da área central mais antiga da cidade. Quase inevitável porque com a evolução da cidade surgem novas centralidades, via de regra tendo como referência centros de compras e de lazer. Demais, com a ascensão do veículo individual como de transporte e a defasagem da oferta de transporte público de qualidade, um conjunto de atividades – como escritórios de advocacia, consultórios médicos, etc. – se transferiram para outros territórios onde há menor dificuldade de acesso e estacionamento.
O fenômeno acontece em cidades medias e grandes praticamente do mundo inteiro. Quando vice-prefeito do Recife, a convite do governo francês, tive oportunidade de conhecer a experiência de revitalização de áreas antigas em Paris e arredores.
Em toda parte é consensual que se deva promover um diálogo harmonioso entre o que há que se preservado – o patrimônio histórico, arquitetônico, cultural e paisagístico – com o novo, sob o vetor de atividades econômicas. Mais: é preciso que se restabeleça a área central da cidade como opção de moradia e não apenas de comércio, serviços e lazer.
Tendo em conta esses conceitos a Comissão de Desenvolvimento Econômico, que presido, promoveu ontem, na Câmara Municipal do Recife, uma audiência pública sobre o tema. À mesa o presidente da Câmara de Diretores Lojistas (CDL), empresário Sílvio Vasconcelos, os secretários municipais de Planejamento e Obras, Amir Schwartz e de Serviços Públicos, Isabel Viana, e o presidente do Instituto da Cidade Pelópidas da Silveira, Milton Botler.
Uma reunião das mais concorridas, público atento e participativo. O debate girou em torno da agenda proposta pela CDL, que combina ações imediatas voltadas para o controle urbano e para a manutenção com intervenções urbanísticas estruturantes. A Prefeitura não compareceu de mãos vazias. Trabalha nos dois sentidos e dispõe de um conjunto de projetos que alterarão qualitativamente a infraestrutura e o funcionamento do centro expandido da cidade.
Mas é preciso fazer muito mais. E o que pode ser feito vai muito além das possibilidades do poder público. Há que envolver, além da CDL – parceira importante da Prefeitura – outras instituições direta ou indiretamente interessadas e a população com um todo. A mobilização da sociedade é fator determinante, conforme se pôde constatar no debate de ontem.
Minha compreensão, compartilhada com o presidente Silvio Vasconcelos e a diretoria da CDL e a anuência solidária dos representantes da Prefeitura presentes à reunião, é de que se deva forjar um movimento amplo, plural, desprovido de qualquer conotação político-partidária e que possa contar com a participação ativa dos órgãos de comunicação, em prol de uma um centro da cidade fisicamente organizado e economicamente próspero, assim como de reivindicação junto às instituições financiadoras para que se viabilizem os projetos de natureza estruturante formatados pela PCR.
O trabalho está apenas começando.
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