Editorial do Vermelho:
A condenação à retomada da alta dos juros, e do conservadorismo político-econômico que ela sinaliza, só não foi unânime porque a oligarquia financeira aplaudiu a medida. Os demais setores – dos trabalhadores à burguesia industrial – condenaram com veemência a alta de 0,5 ponto percentual da taxa Selic, anunciada na noite de ontem (19) pelo Comitê de Política Monetária (Copom), puxando-a para 11,25% ao ano e mantendo o Brasil no inglório posto de campeão mundial de juros.
Entre os sindicalistas a extorsão representada pelos juros altos provocou forte indignação. A Força Sindical considerou que a alta é “desnecessária”, indica a persistência da “agenda econômica que foi derrotada nas últimas eleições por privilegiar o capital especulativo” e fortalecer “os obstáculos ao desenvolvimento do País com distribuição de renda”.
A CTB, por sua vez, considerou que ela significa “um início frustrante do governo Dilma”. “Esse aumento nos preocupa bastante, pois confirma um mau início de governo que teve todo o nosso apoio para sua eleição, mas que se mostra, em suas primeiras decisões, destoante em relação às demandas da classe trabalhadora e do povo brasileiro”, disse Wagner Gomes, presidente da CTB.
A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), encarou a decisão como um “um mau começo” do governo Dilma Rousseff e denunciou o indecente volume que o governo federal vai gastar com juros em 2011: 200 bilhões de reais, muito acima da soma dos gastos previstos com Saúde (72 bilhões) e Educação (60 bilhões). Segundo os cálculos da Fiesp, a subida de 0,5 ponto percentual acrescenta nove bilhões de reais por ano à despesa pública, dinheiro que vai abastecer ainda mais os cofres improdutivos da oligarquia financeira. Ele daria, segundo a entidade dos industriais paulistas, para construir 390 mil casas do Minha Casa Minha vida ou custear mais da metade do Bolsa Família durante todo este ano.
Outras entidades patronais que se manifestaram contra a insanidade do Copom foram a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que viu o aumento como “precipitado”, comprometendo “a capacidade de crescimento de longo prazo da economia”; a Fecomercio-SP, para quem ela é “negativa” e atrapalha o bom ritmo da economia; a Associação Comercial de São Paulo (ACSP), que denunciou outro malefício do aumento dos juros, a valorização do real pois juros elevados atraem ainda mais investimentos estrangeiros especulativos que derrubam o preço do dólar em relação à moeda nacional e facilitam, assim, as importações em prejuízo da economia brasileira.
O Brasil continua o campeão mundial dos juros. Em termos nominais, só perde para a Venezuela (onde a taxa é de 18,1%) e para o Paquistão (onde é 14%). Mas nesses países a inflação é alta (27% na Venezuela e cerca de 20% no Paquistão), enquanto no Brasil ela se mantém no patamar de um dígito (5,9% no ano passado). Assim, descontada a inflação da taxa oficial de juros, no Brasil o juro real gira em torno de 7% ao ano, superando de longe aqueles países com taxas nominais elevadas.
O argumento do Copom, da área econômica do governo e da oligarquia financeira para o aumento dos juros é o risco de aumento da inflação, que combatem com o velho e desmoralizado remédio da contenção do consumo para “esfriar” a economia. Esta política, aplicada dogmaticamente nas últimas décadas por governos conservadores e neoliberais, provocou a estagnação da economia e o empobrecimento do país e de sua população. Desde 2003, com Lula, ela não foi radicalmente abandonada mas timidamente reduzida, e só isso já permitiu a retomada do crescimento econômico, do emprego, a recuperação da renda dos trabalhadores e o fortalecimento do mercado interno. Foi essa limitada guinada pelo desenvolvimentismo que deu ao país as condições para derrotar a crise econômica que prostrou a Europa e os EUA e resultou no clima de animação que o país vive hoje.
Ela indica algo que o dogmatismo monetarista que contamina o Procom e parte da equipe econômica do governo não percebe – o combate mais eficiente à inflação não se dá pela contenção do consumo, mas pelo aumento da oferta de bens e serviços para a população. É disso que o Brasil precisa para continuar avançando, cumprindo o lema de campanha da presidente Dilma Rousseff. A subida nos juros aponta para o rumo oposto: é uma puxada no freio, comprometendo o crescimento e acenando com a volta de um passado que parecia superado. A presidente Dilma Rousseff precisa deixar claro para a nação o que pretende: manter e acelerar o crescimento ou puxar o freio. A decisão do Procom indica a última opção, que o Brasil rejeita.
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