PT versus PMDB menos Programa de Governo
Luciano Siqueira
Passada a euforia da vitória e da posse, os primeiros meses de governo são sempre espinhosos – de todo governo, sobretudo o da República. A agenda é extensa e complexa, os problemas não esperam.
As tensões entre o PT e o PMDB fazem parte. Ambos despontam como os maiores dentre os dezesseis partidos que se aglutinam em apoio ao governo e representam interesses em muitos aspectos conflitantes, que se refletem na disputa por ministérios, direção de empresas estatais e quejandos. Seria ingenuidade imaginar que as coisas pudessem transcorrer em clima de harmonia e paz. Entretanto, há que se qualificar a disputa e cingi-la aos limites do bom senso, sob pena de prejudicar o governo.
A ânsia de petistas e peemedebistas em se fazerem representar em postos considerados importantes e estratégicos não pode nem deve resultar num rebaixamento, sob todos os títulos nocivo, da contribuição dos demais partidos. Se acontecer, será péssimo – para o governo e para o País. PCdoB, PDT, PSB, PRB e outros têm o que apresentar como realizações efetivas a partir das missões recebidas no governo anterior, do presidente Lula, e se mostram credenciados a repetir a dose no atual governo.
Demais, o PT e o PMDB são organizações muito heterogêneas e convivem internamente com contradições que borram seus matizes de esquerda (o PT) e de centro (o PMDB). O predomínio exagerado desses dois partidos no governo, e também na Câmara e no Senado, resultará numa linha centrista que estará muito longe de corresponder às exigências atuais do desenvolvimento do País e às aspirações da grande maioria da população.
Petistas e peemedebistas – persistindo na postura atual – poderão envolver o governo numa teia pragmática e imediatista, pondo a segundo plano compromissos programáticos. Coteje as declarações de próceres dos dois partidos em meio à disputa pelos espaços no governo e descubra quem, onde e quando justificou tal ou qual pretensão com base no programa de governo. O resultado lamentavelmente é zero (diferentemente do PCdoB, por exemplo, que encaminhou à presidenta Dilma documento contendo propostas para a fase de transição).
Alguém pode ponderar que a presidenta Dilma sabe o que quer e está apta a percorrer os caminhos administrativos necessários. Ninguém pode negar isso. Mas ela terá que “fazer política” o tempo todo, combinando firmeza e habilidade, para conduzir ministros e ocupantes de cargos estratégicos a uma prática coerente e efetivamente produtiva. E o fio condutor há que ter o conteúdo programático tão pouco valorizado por petistas e peemedebistas.
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