No meio do caminho tem 2012
Luciano Siqueira
Publicado no portal Vermelho http://www.vermelho.org.br/
Todo cuidado é pouco, embora não se deva abrir mão de projetos partidários legítimos. Em toda parte as forças políticas miram 2014, quando haverá novas eleições gerais, onde pontificarão as disputas pela presidência da República e governos estaduais. Mas no meio do caminho tem 2012, que envolve acirrada concorrência pelo poder local.
A equação é simples: partidos que alimentam pretensões futuras procuram acumular forças agora. E estão certos.
Mais: coalizões amplas, como a que apoia a presidenta Dilma e governantes estaduais (em Pernambuco são dezoito partidos) se dividem em lados opostos no pleito municipal vindouro. Impossível juntá-los todos num projeto unitário. Natural e compreensível.
Outra: eleições municipais na tradição brasileira são, por natureza, acirradas. Muitas vezes as legendas partidárias ficam a segundo plano, ofuscadas pela guerra entre remanescentes de clãs locais.
Acontece que a unidade mais ampla é necessária. Em Pernambuco, por exemplo, a Frente Popular vem dando certo: reelegeu o governador Eduardo Campos (PSB) com quase 83% dos votos válidos (literalmente esmagando o adversário, senador Jarbas Vasconcelos, do PMDB); tem acumulado expressivas vitórias nas últimas eleições municipais; conta com larga maioria na representação pernambucana na Câmara e no Senado; impulsiona o atual ciclo de desenvolvimento do estado. Preservar essa aliança é importante.
Como compatibilizar uma coisa com a outra – contradições, divergências e disputas imediatas com manutenção da ampla frente no pleito seguinte? Não é fácil, e não há fórmula nem manual de instruções. Mas há o imperativo do bom senso, do equilíbrio, da serenidade. E grandeza no respeito às diferenças, na convivência o quanto possível pacífica no transcurso da peleja. A democracia se aprimora assim.
Mas as tensões estão no ar. Cá na província, com o risco de a incontinência verbal de vários contaminar o ambiente. E o pano de fundo é precisamente o fato de que o governador não será mais candidato à reeleição, o que aguça o desejo de lideranças e partidos que se sentem credenciados e minimamente fortalecidos para aspirarem a cabeça da chapa majoritária em 2012. E cada um procura ampliar suas hostes desde já, através da eleição de prefeitos e vereadores.
Ocorre que partidos unidos em torno dos projetos nacional e estadual, portanto convergentes politicamente, se diferenciam na abordagem dos problemas dos municípios. A parte cabe no todo, em princípio sem problemas. Dá para atravessar a ponte sem cair no rio.
Mas aí é que entra a necessidade de descortino político, habilidade e tolerância. Do contrário, sequelas ficarão – algumas delas irreparáveis -, antecipando prematuramente a contenda de 2014 e abrindo fissuras que podem dividir e enfraquecer a ampla frente, dando azo a que a direita saia da frágil situação em que se encontra.
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