Luciano Siqueira
Publicado no portal Vermelho
É comum se ouvir de próceres tucanos e demos a cantilena “somos oposição ao governo, e não ao Brasil”. Mas, na prática, a conversa é outra: a torcida é contra mesmo – contra o povo, contra o País.
Quem não viu o líder tucano no Senado Álvaro Dias ocupar a tribuna anteontem para, a guisa de análise, comemorar o crescimento do PIB em apenas 0,2% no primeiro trimestre do ano? Num discurso palmilhado por números reais, porém examinados de modo distorcido, o senador paranaense tentou demonstrar (sic) que as mudanças operadas na política macroeconômica – sobretudo a progressiva redução da taxa básica de juros e queda do real em relação ao dólar – não estariam produzindo os resultados esperados. Ele não disse, mas certamente gostaria de dizer, que professa o retorno aos condicionantes neoliberais que ganharam força na chamada era FHC.
O mesmo tom se lê e se ouve de colunistas especializados da grande mídia, acrescido de uma evidente má vontade em relação a outros indicadores, que se apresentam positivos e animadores.
Agora mesmo se constata queda da inflação em maio, que conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estacionou em 0,36% em maio. Isto permitirá – como anuncia o ministro Guido Mantega, da Fazenda – mais margem de manobra do governo no manuseio da política monetária, com redução de taxas de juros e aumento do crédito. A inflação projetada em 12 meses fica abaixo de 5%.
O fato é que rapadura é doce, mas é dura. Romper com os entraves ao crescimento econômico não se faz sem o contraponto de forças que, no parlamento e na mídia, cerram fileiras em defesa do capital rentista. Por isso o governo age certo – e a presidenta Dilma muito bem, quando tenta isolar politicamente banqueiros e asseclas – ao centrar o discurso (e a prática) na opção desenvolvimentista.
Claro que o governo esbarra também em dificuldades objetivas e jurídico-formais que o limitam muito, quando não o obrigam a soluções emergenciais de evidentes efeitos colaterais negativos – dando margem a incompreensões e críticas. A nova onda de desoneração fiscal temporária do setor automobilístico e as facilidades creditícias para ampliar a compra de automóveis, por exemplo, reforçam o caos em que se converteu a mobilidade urbana. Menos mal do que o desemprego que se alastraria se este setor entrasse em declínio agora.
Mesmo por um caminho tortuoso e sujeito a idas e vindas, na perspectiva de um projeto novo de desenvolvimento soberano e sustentável, o País avança – fazendo dobrarem a língua tucanos e demos.
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