Ciência e carreira docente nas Universidades públicas
José Luis Simões, no site da Adufepe
Inicialmente, entendo que a discussão e aprofundamento da temática que
trata este artigo é fulcral para o desenvolvimento tecnológico e sustentável do
Brasil. É essencial fortalecer a política de formação de quadros altamente
qualificados para novas formas de trabalho, assim como para o progresso da
Ciência e da Tecnologia.
Todos os indicadores mostram que houve, tanto no Magistério Superior
quanto no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT), evolução da titulação
docente ao longo dos últimos anos. Ampliou-se o sistema de fomento do CNPQ e da
CAPES, todavia, novos desafios se apresentam para o sistema de Ciência,
Tecnologia e Inovação.
Vejamos o perfil atual do professor universitário nas instituições
federais: em sua maioria, atuam no regime de dedicação exclusiva (87,44%, 61.
870 docentes), destes, 73 % são doutores e 23% mestres.
Apesar dessa evolução e do empenho de nossos pesquisadores, é preciso
reconhecer que a produção científica no Brasil ainda está muito aquém do ideal.
Para uma mudança nesse cenário se faz fundamental, além de fortalecer as
políticas de Ciência & Tecnologia, políticas de incentivo para
recém-formados e a Educação Básica ser assumida como prioridade de Estado.
O governo deve à sociedade brasileira uma política de Ciência e
Tecnologia consistente, que tenha clareza e regularidade no financiamento. A
respeito da carreira docente, rememoro a recente luta da greve nas
universidades federais em 2012 e a importância de pleitear uma carreira que
ofereça condições de mobilidade e ascensão ao docente. O projeto de carreira do
movimento docente se baseia na experiência acadêmica, na formação e no regime
de trabalho, priorizando sempre a contratação de novos docentes em dedicação exclusiva.
Muitos docentes já tiveram a experiência de ter suas propostas de
projetos negados pelo CNPQ, e não sabem quais os critérios dessa rejeição. A
transparência nos processos de seleção de projetos com financiamento público é
fundamental.
É preciso também ampliar o debate sobre a atuação do CNPQ e CAPES. Dados
recentes da distribuição de bolsas das Cátedras da Educação mostram que, embora
os maiores desafios educacionais do Brasil estejam no norte e nordeste, 87% das
bolsas estão concentradas no sul e no sudeste. Isso é evidência de desigualdade
regional, financiada pelo Estado.
Precisamos ter um trabalho mais intenso nos órgãos de fomento para mudar
essa realidade. É urgente uma política efetiva de distribuição e atendimento
aos pesquisadores. Assim, é necessário rediscutir a existência dos comitês
assessores que julgam quem deve e quem não deve ter sua pesquisa financiada. É
preciso, ainda, fortalecer os grupos de pesquisa e definir outros parâmetros de
inserção da produção acadêmica.
Com melhor orçamento, maior rigor, transparência e igualdade na
distribuição dos recursos a ciência avançará muito no Brasil. É o que todos
nós, pesquisadores, desejamos; e é o que o país precisa.
José Luis
Simões, doutor em Educação, professor no Programa de Pós-Graduação em Educação
da UFPE e presidente da ADUFEPE (Associação dos Docentes da UFPE).
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