Loiras
Luís Fernando Verissimo
O filme Grace: A Princesa de Mônaco dividiu as opiniões em Cannes. Uns não gostaram e outros odiaram. O correspondente do jornal inglês The Guardian em Cannes chegou a dizer que foi o pior filme jamais mostrado no festival. O filme não é tão ruim assim. Tem as belas vistas de Mônaco e… Bem, tem as belas vistas de Mônaco. Nicole Kidman está bonita como Grace Kelly, mas botaram para atuar ao seu lado como o príncipe Rainier, na pior escolha de elenco desde que Gérard Depardieu foi um Cristóvão Colombo com sotaque francês tão carregado que você ficava esperando que a reação dele ao descobrir um novo mundo fosse “ulalá”, Tim Roth, com a sua permanente cara de “alguém deu um pum”. Segundo o filme, foi a simpatia de Grace Kelly que impediu a invasão do principado de Mônaco por Charles de Gaulle – que no filme é representado, este sim, por um ator convincente, ou pelo menos com um nariz convincente. Há uma cena em que, participando de um jantar beneficente no principado, de Gaulle sente à sua volta o amor que Grace desperta entre seus súditos e você vê na sua cara toda a política externa da França sendo revisada. Deve ter sido uma das cenas vaiadas em Cannes.
Mas a loira do momento na França não é Grace Kelly, é a Marine le Pen, depois da retumbante vitória da direita nas recentes eleições de representantes franceses no Parlamento Europeu. A vitória da direita só não retumbou mais porque não alterou a composição do parlamento francês, em que a Frente Nacional de le Pen tem escassa representação, não foi acompanhada por uma guinada para a direita tão radical no resto da Europa e todos sabem que a política francesa é ciclotímica, pula da direita para a esquerda e da esquerda para a direita com desenvoltura de macaco. De qualquer maneira, até avaliação eleitoral em contrário, a Frente Nacional é hoje o maior partido do país. Grande parte do seu sucesso se deve a Marine, mais simpática do que seu assustador pai Jean-Marie, e que conseguiu transformar um partido xenófobo, racista e antissemita numa opção política palatável, e vencedora.
Discute-se o que é mais perigoso, uma direita dissimulada com boa cara ou uma direita assumidamente carrancuda. O sucesso da loira Marine deve ser visto num contexto bem maior e menos simpático do que ela, de populismo reacionário, de revolta contra imigrantes e de antiesquerdismo primário. Um contexto que se alastra pela Europa toda e agora tem uma vendedora sorridente.
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