Dois vilões à espreita. Será?
Luciano Siqueira, no Jornal da
Besta Fubana
Viver é arriscoso, ensina Riobaldo em ‘Grande Sertão: Veredas’, de Guimarães Rosa. Tudo o que é pecado é bom e engorda, completa o poeta Ascenso Ferreira.
Viver é arriscoso, ensina Riobaldo em ‘Grande Sertão: Veredas’, de Guimarães Rosa. Tudo o que é pecado é bom e engorda, completa o poeta Ascenso Ferreira.
Pois aqui temos um caso de ameaçadora fusão entre o
prazer e o risco.
É que acabo de ler que
cientistas chegaram a uma conclusão tétrica e definitiva: tanto faz açúcar como
sal, sentar à mesa é correr risco de vida. Porque essas duas substâncias que nos dão
prazer não passam de vilões à espreita, prontos a atacar desde a primeira
refeição do dia.
O sal todo mundo sabe que
contribui para dar “alma” ao que comemos - mas faz um mal danado, como adverte
o sábio Epaminondas. Hipertensão é consequência certa, agora ou em futuro
próximo.
O professor Nilton de Souza, de
quem fui aluno no curso médico da Universidade Federal de Pernambuco, costumava
dizer que devia ser proibido saleiro em restaurante.
E também em nossas inocentes mesas
domésticas, claro.
Porque a tentação de “completar” o sal é quase
irresistível para muita gente. Como para o amigo André, que sempre assevera que
sem aquela camada extra de cloreto de sódio a comida não tem gosto.
E a turma que exagera no doce?
É bom saber que o açúcar também
provoca hipertensão, segundo pesquisa feita por cientistas ingleses e
americanos. Quem beber mais do que 355 ml de sucos de frutas ou outras bebidas
adoçadas por dia pode sofrer uma ruptura do tônus dos vasos sanguíneos e
alterar o nível de sal do organismo – e, por consequência, ter elevada a
pressão arterial.
O jeito é optar por bebidas dietéticas
ou sem açúcar, recomendam os pesquisadores. O risco seria quase nulo.
Feito aquela comida de hospital, aguada até dizer
basta.
Bom que se divulguem essas
descobertas. Quanto mais se saiba sobre como atuam em nosso organismo as coisas
que a gente engole, por prazer ou necessidade, melhor.
Mas aí há um risco, digamos,
psicológico (ou espiritual). Se você leva a sério todas as ameaças à mesa,
desiste de comer. E de viver.
Melhor o meio termo: não exagerar na dose, nem se
privar de um bom tempero, que leve sal ou açúcar.
Sejamos tão radicais quanto a realidade – e a
ciência - nos permite, insiste aqui ao meu lado o Epaminondas.
Aliás, a todo instante a gente lê ou vê na TV notícias
de pesquisas justamente destinadas a nos alertar sobre isso – os excessos. Seja
em horas/dia dedicadas à internet, ou diante da TV, ou mesmo a atividades
físicas em academias ou parques.
Quando eu era criança ouvia dizer que até estudar
demais podia prejudicar o juízo!
Dando razão ao romancista Rosa e ao poeta Ascenso, também
há estudos que provam que até sexo – prazer supremo! – também é arriscado.
Moral da história: tudo na vida
requer equilíbrio. E prazer. Inclusive à mesa e na cama.
Será?
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