Xadrez da Lava Jato
com a morte de Teori
Luis Nassif,
Jornal GGN
Figura
curiosa, a do Ministro Teori Zavascki.
No
cargo, personificou a figura do magistrado, com as virtudes públicas da
discrição, da firmeza, em tempos em que Ministros passaram a se comportar como
celebridades e figuras públicas se confundem com perfis de Facebook e, para se
tornar presidenciável basta cometer frases como “não se mude do Brasil, mas
mude o Brasil”.
Em
um país em que a única forma de julgamento é midiático, Teori foi discreto ao
extremo, no trabalho e na vida pessoal. Tanto que passou a ideia de um ser
sisudo e, pelos depoimentos de amigos e parentes, aparece o cidadão
bem-humorado, com a ironia fina e o afeto discreto dos tímidos, que cativou de
Gilmar Mendes a Eugênio Aragão, de Dilma e Lula a Joaquim Barbosa.
Era
capaz de transmitir gentileza nos menores gestos. E de não ceder um milímetro
ao deslumbramento que acometeu muitos de seus colegas, dos jovens aos decanos
imaturos.
Foi
a peça central da Lava Jato, a segurança técnica, a maturidade, contrapondo-se
ao histrionismo dos procuradores paranaenses, ao deslumbramento do juiz Sérgio
Moro e à falta de pulso do Procurador Geral Rodrigo Janot.
Na
Lava Jato, seus maiores conflitos foram justamente com Janot.
Na
primeira leva de denúncias encaminhada ao Supremo, comentou com o filho sua
estranheza pelo fato de Janot ter proposto a absolvição do senador Aécio Neves
contra quem, segundo Teori, havia evidências muito mais fortes do que contra
outros políticos denunciados.
Quando
as arbitrariedades da Lava Jato atingiram o ápice – com a condução coercitiva
de Lula – havia a esperança da montagem de uma aliança liberal no Supremo,
capaz de segurar os abusos e restaurar o estado de direito.
Hipoteticamente,
seriam Teori, Ricardo Lewandowski, Luís Roberto Barroso, Marco Aurélio de
Mello, Luiz Edson Fachin, Celso de Mello e Rosa Weber. Um a um pularam fora,
constrangidos pela virulência da opinião pública e pelos ataques da mídia e
através das redes sociais. Escracho na frente de sua casa, ameaças anônimas
denunciadas pelo próprio filho, certamente contribuíram para arrefecer a
resistência de Teori.
Cometeu
fraquezas e praticou inconstitucionalidades, como o pedido de prisão do então
senador Delcídio do Amaral e o reconhecimento da ilegalidade do vazamento das
conversas de Lula e Dilma, não acompanhado das sanções devidas.
Mesmo
com essas fraquezas, foi o que mais resistiu à pressão de uma opinião pública
que comprara a tese do direito penal do inimigo. Tornou-se o único elo de
toda a cadeia da Lava Jato de quem se podia esperar alguma espécie de isenção,
o acatamento de argumentos jurídicos. E, certamente, a severidade isenta na
hora de analisar as delações, sem, se curvar à parcialidade flagrante do PGR.
Era
chocante, aliás, a diferença de dimensão entre ele e outros personagens da Lava
Jato, como o deslumbramento provinciano de Sérgio Moro nos regabofes de João
Dória ou nos eventos da American Society, ou do Procurador Geral Rodrigo Janot
em Davos, se anunciando como pró-mercado, dois jecas na corte do Rei Arthur.
Da teoria conspiratória à conspiração
Apostar
em teoria conspiratória é tão irresponsável como negar a possibilidade de
conspiração. Se foi acidente ou não, apenas investigações criteriosas dirão.
De
qualquer modo, a morte de Teori abre um leque inédito de possibilidades
estratégicas para a Lava Jato que estão sendo analisadas pelos ínclitos Michel
Temer e Eliseu Padilha, o político notório que, com a determinação férrea dos
grandes comandantes e a falta de sutileza total dos que conhecem a natureza
humana, conseguiu comprar toda imprensa com toneladas de publicidade.
Há
três possibilidades:
1.
Temer escolhendo um Ministro que mate no peito. Baixa probabilidade, dada a sua
falta de legitimidade.
2.
A presidente do STF Carmen Lúcia procedendo a uma distribuição isenta dos
processos sob análise de Teori.
3.
O que é mais provável, um arranjo político no âmbito do próprio STF.
No
Judiciário, há uma distribuição eletrônica dos processos através de sorteios
definidos por algoritmos. Esses sorteios podem e são manipulados.
Na
história recente, há inúmeros exemplos dessa manipulação, como no sorteio de
Gilmar Mendes para relator das contas de Dilma Rousseff e do PT no TSE, tendo
como presidente Dias Toffoli.
Nem
se pense em nada mais desabonador para o Supremo, do que o receio dos bons
Ministros em pegar esse rabo de foguete. O último que pegou - Marco Aurélio de
Mello - ficou ao relento. A proatividade no STF resume-se a Gilmar Mendes.
Em
março de 2015, já ocorrera um primeiro movimento estratégico no STF, quando
Dias Toffolli solicitou e foi autorizado a mudar da 1a para a 2a Turma
– justamente a que iria mais à frente julgar a Lava Jato.
Até
agora, a 2a Turma era composta por Gilmar Mendes (presidente),
Celso de Mello, Ricardo Lewandowski, Teori e Toffoli. Com Teori, estava
assegurada a maioria contra conchavos. Quem assumirá o seu lugar na 2a Turma?
Além
disso, qual dos atuais Ministros teria condições de assumir a relatoria da Lava
Jato? Dias Toffoli e Gilmar, com sua flagrante parcialidade? Barroso, que muda
de pomba a falcão ao primeiro berro da besta? Celso de Mello que já expôs
publicamente seu partidarismo em um shopping center? Luiz Fux, o homem de
Sérgio Cabral Filho?
Trata-se
de uma época tão ingrata para o Supremo, que o acidente que vitimou Teori
tornou-se simbólico: o mais discreto e sisudo dos Ministros do Supremo morre em
uma viagem a passeio no avião particular de um empresário famoso por ser um
grande farrista.
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Um comentário:
Uma homenagem em forma de reconhecimento à conduta do ministro Teori Zavascki.
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