Que partidos?
Luciano Siqueira
Não precisa estar entre os observadores mais argutos da cena política, no Brasil e mundo afora, basta um traço de sensibilidade para identificar, como subproduto da crise global e tupiniquim, a recorrência da negação da forma partido como instrumento de luta.
Agora, entre nós, na esteira da crise de representatividade que atinge a quase totalidade das agremiações presentes na cena política.
E também sob a pressão midiática ininterrupta, que dissemina a falsa ideia de que um dos pilares da crise é a existência dos partidos — sobretudo porque ocupam espaços de poder mediante alianças eleitoralmente vitoriosas.
Como se isso fosse uma novidade ou não acontecesse também nas chamadas "democracias consolidadas", como ficou mais do que evidente na montagem do atual governo de Angela Merkel, na Alemanha.
Ou, para citar outro exemplo marcante, com Aléxis Tsípras na Grécia, de esquerda, condicionado à aliança com a extrema direita para compor o governo parlamentarista.
Aqui são inconfessáveis os interesses em dissipar os partidos políticos, sobretudo porque um deles, de centro-esquerda, o PT, chegou ao governo central e durante doze anos promoveu a ascensão social dos mais pobres, em nível sem precedentes, e retomou a senda da afirmação da soberania nacional no concerto mundial.
Também porque há um fenômeno "fora da curva": o PCdoB completa 96 anos de existência e atividade ininterrupta, como partido programático e de ideologia definida, num país em que historicamente partidos políticos sempre foram efêmeros, conjunturais e pouco apegados a princípios e a programas.
Assim, há até quem cunhe a expressão "era dos partidos-movimentos", numa tentativa de proclamar como "novidade" o que é antigo e apenas ressurge — à direita e à esquerda — em meio à crise de perspectiva que reina no mundo ocidental e no Brasil.
Na prática, uma espécie de opção pelo espontaneismo e pelo imediatismo conjuntural, sob a influência de êxitos eleitorais de (falsos) partidos-movimentos, como na França de Emmanuel Macron.
Como não se tentar reproduzir a falácia no Brasil dos nossos dias?
Daí o mimetismo de várias siglas, que deixaram de se chamar “partido” e adotaram palavras várias, para expressar uma atitude, ainda que desprovida de conteúdo.
Até o velho PMDB retornou à denominação original e retroagiu a MDB; e, mais recentemente, fala-se no advento de um tal Movimento 23 e de uma pré-candidatura à presidência da República — respeitável por todos os títulos —, situada à esquerda, como expressão do tal "partido-movimento".
Na verdade, não há como fugir à construção de soluções programáticas — traduzidas taticamente de modo claro e consequente — num país em que a atual multifacetada crise conjuntural reflete falência estrutural e reclama solução de fundo, na direção da soberania, da preservação de direitos e de renovação democrática.
Na ordem do dia, isto sim, está a superação de dificuldades por partidos realmente comprometidos com o povo e a nação e a reafirmação deste que, em 25 de março último, completou seus 96 anos de lutas.
Luciano Siqueira
Não precisa estar entre os observadores mais argutos da cena política, no Brasil e mundo afora, basta um traço de sensibilidade para identificar, como subproduto da crise global e tupiniquim, a recorrência da negação da forma partido como instrumento de luta.
Agora, entre nós, na esteira da crise de representatividade que atinge a quase totalidade das agremiações presentes na cena política.
E também sob a pressão midiática ininterrupta, que dissemina a falsa ideia de que um dos pilares da crise é a existência dos partidos — sobretudo porque ocupam espaços de poder mediante alianças eleitoralmente vitoriosas.
Como se isso fosse uma novidade ou não acontecesse também nas chamadas "democracias consolidadas", como ficou mais do que evidente na montagem do atual governo de Angela Merkel, na Alemanha.
Ou, para citar outro exemplo marcante, com Aléxis Tsípras na Grécia, de esquerda, condicionado à aliança com a extrema direita para compor o governo parlamentarista.
Aqui são inconfessáveis os interesses em dissipar os partidos políticos, sobretudo porque um deles, de centro-esquerda, o PT, chegou ao governo central e durante doze anos promoveu a ascensão social dos mais pobres, em nível sem precedentes, e retomou a senda da afirmação da soberania nacional no concerto mundial.
Também porque há um fenômeno "fora da curva": o PCdoB completa 96 anos de existência e atividade ininterrupta, como partido programático e de ideologia definida, num país em que historicamente partidos políticos sempre foram efêmeros, conjunturais e pouco apegados a princípios e a programas.
Assim, há até quem cunhe a expressão "era dos partidos-movimentos", numa tentativa de proclamar como "novidade" o que é antigo e apenas ressurge — à direita e à esquerda — em meio à crise de perspectiva que reina no mundo ocidental e no Brasil.
Na prática, uma espécie de opção pelo espontaneismo e pelo imediatismo conjuntural, sob a influência de êxitos eleitorais de (falsos) partidos-movimentos, como na França de Emmanuel Macron.
Como não se tentar reproduzir a falácia no Brasil dos nossos dias?
Daí o mimetismo de várias siglas, que deixaram de se chamar “partido” e adotaram palavras várias, para expressar uma atitude, ainda que desprovida de conteúdo.
Até o velho PMDB retornou à denominação original e retroagiu a MDB; e, mais recentemente, fala-se no advento de um tal Movimento 23 e de uma pré-candidatura à presidência da República — respeitável por todos os títulos —, situada à esquerda, como expressão do tal "partido-movimento".
Na verdade, não há como fugir à construção de soluções programáticas — traduzidas taticamente de modo claro e consequente — num país em que a atual multifacetada crise conjuntural reflete falência estrutural e reclama solução de fundo, na direção da soberania, da preservação de direitos e de renovação democrática.
Na ordem do dia, isto sim, está a superação de dificuldades por partidos realmente comprometidos com o povo e a nação e a reafirmação deste que, em 25 de março último, completou seus 96 anos de lutas.
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