13 janeiro 2019

Nomes & táticas


Cândido Portinari
A nostálgica esperança dos torcedores
Tostão*, Folha de S. Paulo

Existem curiosidades e dúvidas, entre jornalistas e torcedores, sobre como Abel Braga vai escalar todos os bons e caríssimos jogadores do meio para frente.
Provavelmente, vai adotar a estratégia de Felipão de ter dois times para diferentes competições. Esta postura não significa, necessariamente, que é a fórmula ideal para todas as equipes. Não há uma regra permanente em um esporte de tantas possibilidades e acasos como é o futebol.
O Flamengo, com boa situação financeira, graças à diretoria anterior, tem o direito de contratar bons e caros jogadores. Irresponsáveis são os que contratam e não pagam.
Acho apenas que Arrascaeta e Gabigol, ótimos atletas para o nível de futebol que se joga no país, não valem tanto dinheiro. Eles estão no mesmo nível de outros que o Flamengo já tem nas mesmas posições.
Arrascaeta atua melhor pelo centro e perto do centroavante. Como o Cruzeiro tem Thiago Neves, Mano Menezes insistiu, por um bom tempo, para Arrascaeta se adaptar a jogar pela esquerda, marcando e atacando. Quando ele se cansava ou estava com preguiça para voltar, Mano colocava o disciplinado e veloz Rafinha.
Gabigol é o melhor finalizador do futebol brasileiro. Fora isso, tem um repertório pequeno. Quando não faz gols, costuma ficar apagado. Os italianos só conheceram o lado sombrio do jogador.
Gabigol pode atuar como um centroavante, da direita para o centro, para finalizar, ou como um segundo atacante, perto do centroavante. É bem diferente de Diego, que é um armador.
O Palmeiras, preocupado, vê o Flamengo aparecer, com velocidade, pelo retrovisor. Para não ser ultrapassado, tenta contratar Ricardo Goulart, que seria um grandíssimo reforço.
Poderemos ter, nos próximos anos, uma disputa pelo poder, entre Palmeiras e Flamengo, o que não significa, obrigatoriamente, que vão ganhar todos os títulos. Para isso, os dois times têm técnicos experientes, grandes, durões, chefões e carinhosos.
No Brasil, tornou-se um lugar-comum dizer que um time grande, quando não ganha, é porque faltou comando no vestiário. Seria, para muitos, a diferença entre Felipão e Roger Machado. Os ingleses não gostaram do estilo paizão de Felipão. Aqui, os jogadores são mais carentes, dependentes das ordens do técnico.
Esta frágil postura emocional é uma das razões de muitas derrotas e decepções do futebol brasileiro ao longo da história. Os próprios jogadores do Palmeiras, contra o Boca Juniors, na última Libertadores, pareciam anestesiados, à espera de Felipão decidir a partida.
Os outros grandes times brasileiros não querem ficar por baixo e correm atrás de reforços. O São Paulo tem tudo para melhorar com Tiago Volpi, Hernanes e Pablo. O Atlético-MG também cresceu, com a nova zaga (Réver e Igor Rabello).
O Corinthians contratou Carille, Boselli e Ramiro. Cruzeiro e Grêmio perderam jogadores importantes (Marcelo Grohe e Arrascaeta, respectivamente) e precisam se fortalecer. O sonho do Cruzeiro é Bruno Henrique, do Santos, ótimo substituto para Arrascaeta. O Grêmio contratou Vizeu, ex-Flamengo que estava na Udinese, da Itália, um limitado Henrique Dourado mais jovem. Se der certo, vou ter de engoli-lo.
Rafael Sóbis, que, durante anos, ganhou no Cruzeiro como craque e jogou como um atacante razoável, disciplinado taticamente, foi tratado como um reforço do Internacional. Existe uma nostálgica esperança de que ele volte a brilhar, como no início de carreira.
Se der certo, será outro para engolir. Vou ficar engasgado.
Cronista esportivo, participou como jogador das Copas de 1966 e 1970. É formado em medicina
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