A relação de torcedores com técnicos e jogadores é agressiva
e neurótica
Tostão*, na Folha de S. Paulo
Guardiola, desde que
iniciou a carreira de treinador no Barcelona, preencheu um
vazio na maneira de jogar ao criar novos conceitos e estratégias de jogo. Para
isso, o técnico se preparou obsessivamente. Havia também um desejo do mundo do
futebol por algo novo. Foi o encontro do talento com a dedicação e a
oportunidade.
Há
também uma lacuna a ser preenchida no futebol que se joga no Brasil. Estamos
cansados da mesmice. Os jovens técnicos poderiam
preencher esse espaço. É o que Fernando Diniz tenta fazer. Porém,
além de não ter achado o lugar certo, tenho a impressão de que ele não se
preparou para tanto, que falta a ele mais consistência, conhecimento. Tomara
que eu esteja enganado.
A
relação dos torcedores com técnicos e jogadores é muito agressiva, neurótica,
de amor e ódio. São endeusados e criticados, acima do aceitável. No primeiro
jogo do Flamengo, Vitinho foi vaiado e o zagueiro Rodrigo Caio, excessivamente
criticado por um erro técnico. Gols de cabeça também são méritos dos atacantes.
Parte da imprensa inflama os protestos e/ou inicia o ruído. Os programas
esportivos adoram discutir dispensa dos treinadores.
O
torcedor do São Paulo não deveria ser tão duro nas críticas ao jovem técnico
André Jardine nem se iludir que o time está pronto após a vitória por 4 a
1 sobre o Mirassol. Depois do jogo, um repórter perguntou a Jardine
se Hernanes vai entrar no lugar de Nenê, no setor de criação, ou de volante.
Isso retrata a antiga visão de que o meio-campo é dividido entre os volantes
que jogam atrás e o meia que cria e ataca.
O
torcedor do Flamengo não deveria também se iludir que, com as novas
contratações, vai ter um timaço. Vai melhorar o elenco, o que é importante para
disputar bem todas as competições, mas a equipe titular será pouco diferente,
tecnicamente, da do ano passado.
O Palmeiras, com Ricardo Goulart, vai ficar ainda
mais forte nas jogadas aéreas, uma das virtudes do time, ainda mais com os
ótimos cruzamentos de Scarpa.
Por outro lado, o Palmeiras raramente massacra os
adversários, tem amplo domínio da partida e cria muitas chances de marcar. Os
gols decisivos saem, geralmente, nos momentos certos, mesmo quando o jogo está
equilibrado. Por isso, há um risco aumentado de que, mesmo com um ótimo elenco,
os gols das vitórias, em 2019, não ocorram com tanta regularidade e frequência.
Essa proximidade entre a vitória, o empate e até a derrota foi uma das razões
das desclassificações da equipe na Copa do Brasil e
na Libertadores,
contra times fortes, como Cruzeiro e Boca Juniors.
Na vitória por 3 a 1 do Cruzeiro sobre o Guarani
de Divinópolis, onde nasceu e vive a grande poetisa
Adélia Prado, vi, pela televisão, que o estádio, as arquibancadas, o
gramado, o placar com folha de papel, o banco de reservas do visitante atrás do
gol –Mano Menezes reclamou bastante– e o ambiente eram iguais ou muito
parecidos com o dos anos 1960, quando jogava no Cruzeiro, pelo Estadual.
Muitos vão dizer que é o futebol raiz. Outros
falarão que os longos estaduais estão perdidos no tempo. Não tem de ser uma
coisa ou outra. Deveria haver um campeonato mais curto, com estruturas
melhores, que unisse o romantismo, o prazer de desfrutar de coisas de outras
épocas, com a modernidade, a realidade atual e o negócio futebol. O bom senso e
os bons marqueteiros deveriam entrar em campo.
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