22 abril 2019

Onde se joga o melhor futebol


Juliane Mercante

Três dias de um amante do futebol
Êxtase e agonia de quem se rendeu ao jogo europeu e se decepciona com o brasileiro
Juca Kfouri, na Folha de S. Paulo

Corintiano e guardiolista, o cidadão acordou cedo no domingo (14) para ver o Manchester City ganhar sem maiores problemas do Crystal Palace, em Londres.
Tentou secar o Liverpool em seguida, mas, mais uma vez, ficou encantado com a atuação do time de Jürgen Klopp, que superou o Chelsea por 2 a 0 e reassumiu a liderança do Campeonato Inglês, com um jogo a mais que o City.
Realista, não tinha a expectativa de ver o Majestoso, no Morumbi, à altura dos jogos ingleses, mas, resiliente e otimista, esperava um bom clássico para começar a decisão paulista. 
O medíocre 0 a 0 quase o exasperou, tão raras foram as emoções, escassas as chances para um mísero golzinho.
Dormiu irritado naquela noite, já pensando na terça-feira (16), reservada para dois jogos das quartas de final da Liga dos Campeões da Europa.
Barcelona, seu único time além do Corinthians, muito pela Catalunha, e mais ainda pela filosofia que mantém há décadas, receberia o Manchester United, a quem já tinha derrotado no jogo de ida por 1 a 0, e a Juventus recepcionaria o alegre Ajax, empatados por 1 a 1 no primeiro jogo, na Holanda.
Divertiu-se a valer tanto com o jogo em Barcelona quanto com o em Turim.
Divertiu-se e comemorou as vitórias do Barça, por 3 a 0, com mais um recital de Lionel Messi, autor de gol antológico, e da garotada holandesa, por 2 a 1, ambos classificados para as semifinais do melhor torneio do mundo, aí incluídas as Copas do Mundo.
Quem vê apenas o resultado do jogo na Espanha imagina um passeio catalão. Mas não.
Os ingleses imprensaram os donos da casa por 15 frenéticos minutos, acertaram o travessão com 40 segundos e só pararam no golaço de Messi, aos 15, para murcharem no segundo gol do argentino, graças ao frangaço do grande De Gea, madrilhenho, ainda por cima.
Já os meninos holandeses não tiveram o menor respeito pela Velha Senhora comandada pelo brilhante Cristiano Ronaldo.
Os britânicos foram jogar futebol e perderam.
Os neerlandeses também foram jogar futebol e venceram.
Dormiu ansioso pela quarta-feira (17) que teria pela frente.
Pela tarde, bem entendido, com as outras duas partidas para definir os outros semifinalistas: Porto x Liverpool e Manchester City x Tottenham. 
Os portugueses em desvantagem de 0 a 2; os pupilos de Pep Guardiola perdendo de 1 a 0.
Não se decepcionou.
Nem viu a vitória do ingleses sobre os lusitanos por 4 a 1 porque o 4 a 3 para o City o impediu.
Não foi um jogo. Foi um épico, quatro gols nos dez primeiros minutos e gol anulado pelo VAR, já nos acréscimos, o que daria a classificação para o time de Pep Guardiola.
Um embate que está para o futebol como a Ilíada está para a literatura universal.
Exagero? Veja o jogo, leia o que se atribui a Homero.
Com a diferença de que o 4 a 3 não se atribui a ninguém. 
Foi de Sterling, de Son e de Llorente.
Terminada a epopeia em Manchester, preparou-se para ver Santos x Vasco, pela Copa do Brasil, certo de que o time de Jorge Sampaoli tentaria, ao menos, jogar futebol. 
Depois, ainda teria o Gre-Nal decisivo do estadual, garantia, ao menos, de tensão, e Chapecoense x Corinthians, também pela Copa do Brasil.
Sim, seu time jogaria e era quem despertava menor ansiedade, por já saber o que veria: apenas a busca de bom resultado.
Seria surpreendido?
Se você veio até aqui sabe a resposta. 
Corintiano sofre?
Graaaaaande Tostão!
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