28 dezembro 2020

Evoluindo em quê?


 Futebol brasileiro melhorou em 2020, mas nem tanto

Houve evolução, só que não temos 'melhor liga do mundo' como disse Jorge Jesus

Tostão, Folha de S. Paulo

Apesar da ausência da torcida, de vários jogadores e técnicos infectados pela Covid-19, do calendário com excesso de partidas e de tantos problemas físicos e emocionais com vários atletas, existe, na média, uma evolução na qualidade e na maneira de jogar dos times brasileiros. É muito bom ver equipes trocarem mais passes, jogarem com intensidade, marcarem em todo o campo e variarem os esquemas táticos, de uma maneira eficiente e agradável.

O futebol brasileiro melhorou, mas nem tanto. Existem hoje muitos treinadores jovens, estudiosos e que contam com a ajuda de bons profissionais científicos nas comissões técnicas. Em consequência da pandemia e da necessidade, os atletas jovens foram mais escalados e amadureceram mais rapidamente.

Existem ainda muitas coisas a fazer. Diminuiu o tamanho dos espaços entre os setores, mas eles continuam muito grandes. A maioria dos zagueiros e dos goleiros tem enorme dificuldade de dar um bom passe. Os zagueiros jogam colados à grande área. Os centroavantes são muito fixos, e os jogadores pelos lados vão e voltam, encostados à linha lateral. Há um excesso de chutões e de bolas lançadas à área pelo alto.

Parte da imprensa continua refém da audiência, dos resultados, das redes sociais e de dar aos técnicos uma importância excessiva nas vitórias e nas derrotas, além da importância que verdadeiramente têm.

As partidas são ainda muito tumultuadas, com briguinhas, ofensas, gritos, xingamentos dos técnicos e paradas excessivas do jogo. Acham que isso faz parte do futebol. É o contrário. Piora a qualidade do espetáculo.

A CBF deveria ser mais exigente, presente. O uso do VAR precisa ser aperfeiçoado, mas, ainda mais importante, é melhorar a qualidade dos árbitros e auxiliares em campo. É inadmissível que algumas partidas, de todas as séries, sejam jogadas em péssimos gramados.

O futebol brasileiro melhorou, mas nem tanto. Não acredite no que disse o excelente e narcisista treinador português Jorge Jesus. Encantado com si mesmo, Jesus, ao falar à imprensa de Portugal que o Brasil possui o melhor campeonato do mundo, quis dizer que ele é tão bom, tão espetacular, que foi o rei da melhor competição de todas.

No ano, muitos jogadores brilharam intensamente. É difícil escolher o melhor. Daniel Alves é um deles. As pessoas que ficaram decepcionadas com Daniel Alves esperavam que ele fosse um clássico camisa 10 (é apenas o número que ele usa na camisa) e que deveria fazer e dar muitos passes para gols. Elas desconhecem o que é um meio-campista, um construtor, um organizador, que joga de uma intermediária à outra e que comanda um time. É a alma de uma equipe.

Se a Copa fosse hoje, Daniel Alves deveria ser titular da Seleção. Ele poderia jogar no lugar de Danilo, como um lateral construtor, como Tite deseja. Danilo não tem nenhuma condição para isso. É um bom jogador, marcador, rápido, e que avança encostado à lateral. Na Juventus, ele é um terceiro zagueiro.

Outra posição que Daniel poderia jogar é a mesma em que atua no São Paulo, no lugar de Arthur, de Douglas Luiz, de Bruno Guimarães ou de qualquer outro que tem sido chamado pelo técnico Tite. Daniel Alves é melhor que todos. Além disso, para ele, jogar na seleção brasileira ou no São Paulo não faz nenhuma diferença. Apresentará a mesma qualidade.

Mas se o São Paulo não ganhar a Copa do Brasil nem o Brasileiro, muitos vão dizer que Daniel Alves decepcionou, que ele não deu os títulos que o clube precisava.

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