Dona Elzita agora é praça do Recife
Urariano Mota
Numa
campanha que o governo Dilma vinculou há alguns anos na televisão, para que as
pessoas doassem e revelassem o que ainda, aterrorizadas, possuíam em casa, Dona
Elzita apareceu com um breve depoimento onde recitou um poema. O vídeo está
aqui
Com
voz firme ela encantava: “Hei de vê-lo voltar, ela dizia, o meu doce consolo, o
meu filhinho. Passam-se anos, e o véu do esquecimento baixando sobre as coisas
tudo apaga. Menos da mãe, no triste isolamento, a saudade que o coração
esmaga”.
Um
dos filhos vivos, Marcelo Santa Cruz, me disse uma vez que ela é uma grande
mulher. E que para os católicos ou cristãos, ela é uma dádiva de Deus. Mas uma
semana depois eu respondi a ele, por email, que Dona Elzita, para mim, se
assemelhava a um baobá. Não pelo porte, pela altura, pelo tronco ou pela copa
da árvore majestosa, porque Dona Elzita é pequena de corpo e magrinha de
carnes. A semelhança com a maravilhosa árvore vem da sua resistência. Vem do
que o baobá, árvore sagrada para os cultos afros, árvore sagrada para os que
amam a vida, retém de homens e mulheres, da memória de homens escravizados e
resistentes desde a África. Dona Elzita lembra também o baobá pela fecundidade,
pelo exemplo fecundo de mulher, que também nasce quando faz nascer.
Ela, que lembrava o
baobá, agora é praça, eterna na memória do Recife.
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