28 janeiro 2021

Um passo adiante

Falta completar o discurso

Luciano Siqueira

 

Seria exagero dizer que as oposições se mostram vazias de propostas alternativas ao desastroso governo Bolsonaro.

Mas é fato que, aos olhos da maioria da população, a insatisfação com o governo e o presidente ainda não se completa com a percepção clara de que algo consistente poderá substitui-lo.

Para além das justas e oportunas reivindicações de vacina contra a Covid-19, retorno do auxílio emergencial e socorro às empresas (sobretudo médias e pequenas), propor a retomada do desenvolvimento é essencial. Em termos compreensíveis pela maioria.

Porque a insatisfação por si mesma não produz a ação consequente. Por onde caminhar e para que completam a consciência social mínima necessária.

Por enquanto há mais sofrimento do que esperança.

Basta ver a queda de braço entre o governo de São Paulo e o governo federal em torno da vacina contra a Covid. Um contrato entre o Butantã e o ministério da Saúde prevê a renovação de pedido de novos lotes do imunizante. O ministro, orientado por Bolsonaro, protela o expediente até a data limite legalmente prevista, na expectativa de desgastar o governador Dória.

Um enredo absurdo para a tragédia sanitária que já vitimou mais de 220 mil brasileiros!

Esse entrevero por si mesmo poderia estar motivando protestos públicos, mas não está. As carreatas do último fim de semana foram um bom sinal e devem ser ampliadas.

É como que uma letargia causada pela decepção (da maioria que votou no presidente irresponsável) e pela descrença estivesse inibindo a população.

Claro que as coisas não mudam na cena política da noite para o dia. E quando isso acontece é porque as contradições já vinham se agudizando na base da sociedade, como fogo de monturo, até a explosão social.

Entre nós há muita coisa queimando, sim; mas as labaredas não parecem tão próximas assim.

E agora que mesmo à direita surgem vozes em favor do impeachment, um mínimo de convergência em torno do pós-impeachment poderia inclusive alterar a correlação de forças na Câmara e no Senado. A base parlamentar de sustentação de Bolsonaro é frágil e volátil.

Nesse cenário, sentar à mesa para uma concertação ampla, plural e focada na retomada do desenvolvimento reforçaria muito a tendência de enfraquecimento do presidente e de fortificação das oposições.

Esse exercício em certa medida tem se traduzido nas mais de seis dezenas de peças encaminhadas à presidência da Câmara dos Deputados pedindo o impeachment, escritas a muitas mãos, todas elas muito bem fundamentadas.

Acrescentar mais consistência a esse movimento em nada atrapalha projetos partidários para 2022. Todos os que resistem se fortalecerão com a vitória da resistência, a diferenciação se fará depois pelo crivo das urnas.

Parece simples, mas não é.

O Brasil vive um instante tão crítico quanto carente de lideranças que polarizem o entendimento nacional.

Sem perder a esperança jamais, vejamos os próximos lances.

Veja: Trabalho, renda e vacina são destaques na resistência imediata https://bit.ly/35deEMX

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