O rumo tresloucado do presidente
Luciano Siqueira
Entrando no quarto mês do terceiro ano de governo, Jair
Bolsonaro persegue a ideia fixa que o inspira desde os primeiros dias: semear o
caos e, assim, emergir como chefe supremo de uma ditadura.
Para uma conclusão simplista, mas não é.
Mesmo nos raros momentos de calmaria relativa, em que o
presidente não agrediu uma das instituições da República ou não atacou supostos
ou eventuais inimigos, jamais perdeu o rumo.
E se apoia inclusive em seu próprio despreparo para o cargo
para desferir golpes em todas as direções, sustentado por uma retórica tosca
mas compreensível e aceita pela parcela da população (turba ignara que oscila entre 30% ou
menos) que lidera.
Mesmo após acordos com o chamado centrão, que lhe
possibilitam maioria parlamentar numérica circunstancial, segue alheio a uma
relação profícua com sua base, que restringe ao toma lá dá cá via cargos e emendas.
O último pronunciamento do ex-capitão, ontem, em cerimônia
no Palácio do Planalto, é uma pérola horrenda em matéria de enfrentamento da pandemia e
de política externa.
Persiste em campanha aberta contra as medidas sanitárias de
contenção do novo coronavírus e retoma o discurso do seu ridículo ex-suposto-chanceler
Ernesto Araújo, acusando a República Popular da China de haver criado o vírus,
provocado a pandemia e tirado proveito dela para seu próprio crescimento
econômico e fortalecimento na cena internacional.
“Uma guerra química e bacteriológica”, sugeriu do alto de
sua insanidade.
E, mais uma vez, ameaçou o Judiciário (subtenda-se sobretudo
o STF) com o cumprimento, a ferro e fogo (sic) de um decreto que estaria
preparando precisamente no sentido de barrar medidas sanitárias anti-Covid e
favorecer a “liberdade de ir vir”, no caso, de suicídio coletivo.
Mas há que se perguntar se o próprio presidente ou alguém do
seu precário núcleo de governo não percebe seu crescente isolamento político –
e por consequência a falência de forças para tais arroubos.
Pode ser que sim, ou não.
A fusão da obsessão golpista com a incompetência para governar
aprisiona o presidente numa teia da qual é incapaz de sair.
O desenrolar da CPI da Covid no Senado contribui para
isolá-lo mais ainda e o estimula a reagir a seu modo provocador e inconsequente.
Em fala emocionada a propósito da morte prematura do ator
Paulo Gustavo, Caetano Veloso apelou a uma força que há de emergir da sociedade
brasileira para superar a dramática situação em que vivemos.
As multifacetadas forças de oposição têm diante de si esse
desafio.
.
Para sua informação: Três pontos sobre a CPI da Covid https://bit.ly/2P5l2AZ
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