19 março 2024

Cláudio Carraly opina

O Impostor do Impostor – Fingindo Sofrer da Síndrome do Impostor
Cláudio Carraly*


Ah, a arte de ser o Impostor do Impostor! Sério, por que se contentar em ser apenas um impostor quando você pode fingir ser um e ainda se gabar por isso? Neste emocionante jogo de faz-de-conta, embarque conosco nessa viagem pelo mundo dos egos inflados e inseguranças mascaradas, onde a Síndrome do Impostor é a estrela principal. Mas espere, há uma reviravolta! Sim, é possível simular essa síndrome sem a menor necessidade de se afundar no drama real. Ah, a beleza da ironia!

Então, antes de nos aprofundarmos nessa farsa bem ensaiada, vamos relembrar o que diabos é essa tal de Síndrome do Impostor. É aquela sensação absurda que ataca até mesmo os mais talentosos e brilhantes entre nós, fazendo com que questionem suas próprias habilidades e vivam com medo de serem desmascarados. É como estar em um palco, recebendo aplausos, mas, no fundo, você está apenas esperando alguém gritar "Corta! Você está péssimo nisso!" É a comédia hilariante da mente humana, onde você se convence de que é uma fraude mesmo quando está mandando muito bem.

Mas eis que surge a grande revelação: estamos prestes a mergulhar no mundo obscuro da impostura consciente! Sim, somos membros exclusivos desse clube seleto que descobriu o segredo mais sombrio da psicologia moderna: fingir a Síndrome do Impostor é possível, meus caros! É como fingir adorar o prato que sua namorada fez quando, na verdade, você mal consegue engolir aquela maxixada que ela chama de obra-prima culinária. Prepare-se para a jornada enquanto desvendamos as sete etapas para fingir ser um impostor como um verdadeiro profissional.

Auto-Depreciação de Elite:
Comece com uma boa dose de desvalorização pessoal. Sempre que receber um elogio, suspire pesadamente e finja que está recordando os dias sombrios da sua infância. "Ah, essa conquista? Puro acaso. Igual à Copa do Brasil do Sport Recife, né?";

Mestre do Engodo:
Para manter a farsa, evite demonstrar qualquer autoconfiança. Se alguém notar suas realizações, dê de ombros e sorria amargamente. "Sim, parece que deu certo, mas só pode ter sido um erro de cálculo.";

Fluência no "Falsês":
Assim como um vigarista habilidoso, você precisa dominar o vocabulário da Síndrome do Impostor. Use expressões como "fraude total", "sorte gigantesca" e "desastre monumental" para descrever suas conquistas. Quanto mais dramático, melhor;

Arsenal de Desculpas:
Mantenha uma lista de desculpas afiadas sempre à mão para quando alguém ousar reconhecer sua competência. "Ah, qualquer um poderia ter feito isso", "foi puro golpe de sorte" e "até um relógio quebrado acerta duas vezes ao dia" serão suas armas secretas nessa batalha pela falsa modéstia;

Expressão Facial de Descrença:
Treine seu rosto para expressar surpresa, incredulidade e um toque de ressentimento sempre que receber um elogio. Lembre-se, você é um artista da farsa e deve manter sua atuação impecável;

Mergulhe na Autocomiseração:
Para manter o personagem, entregue-se completamente ao auto-piedade, lamente sobre como suas realizações são insignificantes e como sua existência é um fardo para o planeta.

E aqui estamos, no clímax desta tragicomédia da vida moderna, o que faremos quando as cortinas se fecharem neste espetáculo da hipocrisia humana? Continuaremos fingindo, como atores medíocres em uma peça mal ensaiada, ou finalmente admitiremos que somos gênios disfarçados de tolos? A escolha é sua, mas permita-me oferecer um conselho tão sincero quanto um populista em campanha: abrace a farsa com todo o seu coração!

Na imensa encenação da vida, todos nós somos apenas atores, interpretando papéis que nem sempre nos cabem perfeitamente. E a Síndrome do Impostor? Ah, apenas mais uma desculpa conveniente para justificar nossas inseguranças enquanto tentamos fingir que controlamos algo tão incontrolável como a própria existência. Então, coloque sua máscara de falsa humildade e dance ao ritmo da sua própria enganação. Porque, afinal de contas, a vida é uma tragicomédia onde todos nós somos protagonistas e palhaços ao mesmo tempo. 
E assim, meus caros impostores, chegamos ao ápice desta magnífica encenação da vida moderna, onde as máscaras de falsa modéstia se desfazem diante dos nossos olhos, revelando o espetáculo hilário da impostura consciente, com um sorriso cínico nos lábios e uma pitada generosa de ironia no coração, desvendamos as entranhas dessa comédia de erros na qual todos nós desempenhamos papéis tão tragicamente cômicos.

E que bela peça encenamos, não é mesmo? Num palco onde a autenticidade é apenas uma miragem distante, abraçamos com fervor a farsa e nos regozijamos em nossas atuações tão convincentemente falhas, pois afinal, o que é a vida senão um espetáculo de mentiras habilmente disfarçadas de verdades? Então, ergamos nossas taças, brindemos às nossas performances, iludindo a nós mesmos e aos outros num balé eterno de enganos e ilusões. 

E se porventura alguém nos acusar de sermos apenas impostores, sorriamos ainda mais largo, pois, no fundo, sabemos que, neste grande teatro da vida, ser autenticamente falso é a maior verdade que podemos alcançar. Pois como nos lembra o eterno Fernando Pessoa: "O poeta é um fingidor, finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente."

[Ilustração: Rafael Zabaleta]

*Advogado, ex-secretário executivo de Direitos Humanos de Pernambuco
Para além das faces visíveis https://bit.ly/3Ye45TD 

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