20 março 2024

Enio Lins opina

Joga o Hamas o papel de agente provocador em benefício de Israel?

Enio Lins


 

Desenhada, essa ilação foi publicada na edição do semanário Extra em 15 de março deste ano e aqui vai replicada, pois esses radicais ditos palestinos são (acho eu) menores-aprendizes dos radicais ditos israelenses.

Designar o Hamas como “terrorista” é um erro? Não, se, simultaneamente, classificar Israel como “terrorista”. Fica eles por eles, assim como rotular ambos de “extremistas”. Pode-se também considerar o Hamas e o Likud produtos legítimos da “democracia”, pois foram eleitos livremente em seus territórios (Gaza e Israel).

SURGIMENTO DO HAMAS

Quaisquer análises sobre o Hamas devem partir da constatação que grupos como esse surgem em consequência da campanha brutal de desmoralização – orquestrada por Israel – contra as entidades palestinas que renunciaram à luta armada, tipo OLP. Telavive esvaziou politicamente as lideranças com poder de negociação como Yasser Arafat (morto misteriosamente em 2004) e Mahmoud Abbas, atual presidente da Autoridade Palestina e totalmente isolado, em prol dos radicais islâmicos.

Grupos do tipo Hamas são, na origem, expressões da legítima revolta da população nativa contra as violências e as expropriações impunes que os sionistas impõem pela força das armas. Porém, a cada dia fica mais evidente o caráter provocativo de determinadas ações que servem unicamente à política genocida israelense, em prejuízo das vidas palestinas e de seus poucos territórios restantes.

OBVIEDADES BÉLICAS

Inquestionável é o poder armado de Israel, assim como a superioridade de seus serviços de espionagem. Antes mesmo de ser Estado, Israel formou um formidável exército no crepúsculo da II Grande Guerra – e sem participar dela como força expedicionária própria, apesar dos judeus serem vítimas do genocídio nazista. Paridas por americanos e soviéticos, as forças armadas israelenses foram geradas exclusivamente para o combate contra os nativos palestinos e contra os países árabes circunvizinhos.

Ao se proclamar independente, Israel já contava com incríveis forças armadas, e com um serviço de espionagem que cruzava – privilégio único – as informações secretas colhidas pela CIA e pelo KGB sobre seus adversários. Quando os países árabes decidiram atacar, foram derrotados sem nenhuma dificuldade, e sempre, desde 1948. Daí a pergunta: Como se explica que, 75 anos depois de imensa superioridade bélica, Israel seja “surpreendido” por um ataque em larga escala no dia 7 de outubro de 2023?

SUPERIORIDADE INCOMPARÁVEL

Essa supremacia só tem crescido. Israel é praticamente invulnerável. Pergunta: e o assassinato do primeiro-ministro Itzhaki Rabin? Resposta: Foi cometido por um terrorista israelense de extrema-direita, Yigal Amir, que “inexplicavelmente” furou a instransponível segurança (em 4 de novembro de 1995) e acertou, sem ser incomodado, dois tiros no premiê... Rabin defendia a paz com os palestinos.

Israel é notável por ações letais, seletivas. Por exemplo, não encontrou dificuldades em assassinar, na noite de 22 de março de 2004, o então principal líder do Hamas, xeque Yassin (cego, paraplégico, numa cadeira de rodas), localizado com precisão em Gaza e explodido por mísseis disparados por helicópteros militares. Pergunta: Como os demais líderes “terroristas” têm sobrevivido? Resposta: ...?

Insistindo: Como se justifica que, 75 anos depois de avassaladora superioridade bélica, Israel seja “surpreendido” por um ataque em larga escala em 7 de outubro de 2023??

Uma só é a meta do sionismo radical: ocupar toda a região da Palestina, "do Mediterrâneo ao Jordão", restabelecendo, na marra e na bala, o que consideram ser as antigas áreas dos reinos de Judá e Israel. Na marra e na bala, os colonos sionistas têm avançado sem tréguas sobre as propriedades dos palestinos, expulsando-os para fora da região ou confinando-os na Cisjordânia e na estreita e superpovoada faixa de Gaza. Para expulsar de vez os nativos (ou lhes matar) e tomar-lhes o que resta de terras, Israel só precisa que alguém, em nome dos oprimidos, forneça alguma justificativa mínima.

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