Hidrogênio Verde: o potencial do
Brasil na economia do futuro
Cláudio Carraly*
O
hidrogênio verde é um pilar essencial na transição para uma economia de baixo
carbono, contribuindo para a redução das emissões de gases de efeito estufa e o
cumprimento de metas climáticas globais. Diferente do hidrogênio cinza,
produzido a partir de combustíveis fósseis e responsável por altas emissões de
CO2, o hidrogênio verde é obtido por eletrólise da água utilizando eletricidade
de fontes renováveis, como solar e eólica, o que elimina a emissão de poluentes
e gera apenas oxigênio.
A Agência
Internacional de Energia - IEA projeta que o hidrogênio verde poderia fornecer
até 24% das necessidades energéticas globais até 2050, contribuindo para uma
redução de até 20% nas emissões de CO2, no entanto, seu custo de produção ainda
é um desafio, sendo significativamente mais elevado que o do hidrogênio cinza e
azul (produzido com captura de carbono na atmosfera). A redução desses custos é
crucial para a viabilidade econômica e expansão do uso do hidrogênio verde.
Desafios
e Oportunidades Globais
Para viabilizar
o uso do hidrogênio verde, muitos países estão implementando políticas de
incentivo e investimentos em pesquisa e desenvolvimento, a União Europeia, por
exemplo, estabeleceu uma meta ambiciosa de produzir 10 milhões de toneladas de
hidrogênio verde até 2030, com investimentos massivos em infraestrutura e
inovação tecnológica. Países como a China, Japão e Austrália estão na
vanguarda, com a Austrália investindo bilhões em plantas de hidrogênio verde
com foco na exportação para mercados asiáticos, e a China destinando recursos
para substituir o hidrogênio cinza em suas indústrias, alavancando seu uso em
setores como siderurgia e química.
O Papel
do Brasil na Economia do Hidrogênio Verde
O Brasil
possui uma vantagem competitiva única devido à sua matriz energética
predominantemente renovável, com cerca de 83% da eletricidade proveniente de
hidrelétricas, eólicas e solares. Esse diferencial pode tornar o país um dos
maiores produtores e exportadores de hidrogênio verde, com custos de produção
potencialmente mais baixos do que em outras regiões do mundo.
Localizado
no Porto de Suape, em Pernambuco, o TecHUB Hidrogênio Verde, é uma iniciativa
estratégica que visa posicionar o Brasil como líder global na produção e
exportação desse combustível, liderado pelo Senai-PE, o supercluster está sendo
desenvolvido com o apoio de parceiros públicos e privados, incluindo
universidades e empresas de tecnologia, visando acelerar o desenvolvimento de
soluções inovadoras e sustentáveis. O complexo abrigará plantas piloto para
produção de hidrogênio verde e instalações dedicadas à pesquisa em baterias de
baixa voltagem e outras tecnologias emergentes. Além disso, funcionará como um
centro de capacitação para profissionais, abordando a crescente demanda por mão
de obra qualificada no setor.
Desafios
Técnicos e Regulatórios no Brasil
Apesar
das vantagens, o Brasil enfrenta desafios significativos, especialmente
relacionados à infraestrutura e regulamentação. A infraestrutura existente não
está plenamente preparada para o transporte e armazenamento de hidrogênio,
necessitando de investimentos em novas tecnologias e adaptações, além disso, o
marco regulatório para a produção e comercialização de hidrogênio verde
continua em fase de desenvolvimento. Incentivos fiscais, subsídios para
pesquisa e a criação de um mercado regulado para o hidrogênio são medidas
fundamentais para atrair investidores e fomentar o crescimento desse setor.
Outro
obstáculo é a competição com outros produtores globais que já avançaram na
curva de aprendizado, o Brasil precisará não só alavancar sua abundância de energia
renovável, mas também investir pesadamente em pesquisa e inovação para reduzir
os custos de produção e tornar o hidrogênio verde acessível e competitivo
internacionalmente. Estratégias bem-sucedidas em outros países, como a planta
de hidrogênio verde de Heide na Alemanha, que utiliza eletricidade de parques
eólicos para alimentar indústrias locais, podem servir de modelo para o Brasil.
Oportunidades
Econômicas e Ambientais
O
hidrogênio verde tem o potencial de movimentar cerca de US$ 700 bilhões globalmente
até 2050, e o Brasil está bem posicionado para capturar uma parte significativa
desse mercado, a expansão dessa indústria no Brasil pode gerar milhares de
empregos, atrair investimentos estrangeiros e diversificar a matriz econômica
do país, e ampliar a base energética local, reduzindo a dependência de
combustíveis fósseis. Além disso, ao se tornar um exportador de hidrogênio
verde, o Brasil pode desempenhar um papel crucial na descarbonização global,
auxiliando outros países a atingirem suas metas climáticas.
À medida
que o mundo avança para um futuro de baixo carbono, o hidrogênio verde oferece
ao Brasil uma oportunidade única de transformar sua economia e se destacar como
um líder global em energias renováveis. Para alcançar essa visão, é essencial
que o Brasil adote uma abordagem estratégica integrada, envolvendo políticas
públicas eficazes, incentivos ao desenvolvimento de infraestrutura e
tecnologias, e uma colaboração robusta entre governo, indústria e academia.
A criação
do TecHUB é apenas o início de uma trajetória promissora, a continuidade de
investimentos, o apoio governamental consistente e o engajamento dos setores
público e privado serão cruciais para que o Brasil consolide sua posição como
um dos principais atores globais do hidrogênio verde, impulsionando a inovação,
sustentabilidade e contribuindo significativamente para a luta contra as
mudanças climáticas em escala global. Com essas ações, o Brasil não apenas
atenderá às suas próprias necessidades energéticas, mas também se tornará um
fornecedor mundial de soluções energéticas limpas, transformando desafios em
oportunidades e liderando a economia do futuro.
*Advogado, ex-Secretário Executivo de Direitos Humanos de Pernambuco
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