06 setembro 2024

Cláudio Carraly opina

Hidrogênio Verde: o potencial do Brasil na economia do futuro
Cláudio Carraly*   

O hidrogênio verde é um pilar essencial na transição para uma economia de baixo carbono, contribuindo para a redução das emissões de gases de efeito estufa e o cumprimento de metas climáticas globais. Diferente do hidrogênio cinza, produzido a partir de combustíveis fósseis e responsável por altas emissões de CO2, o hidrogênio verde é obtido por eletrólise da água utilizando eletricidade de fontes renováveis, como solar e eólica, o que elimina a emissão de poluentes e gera apenas oxigênio. 

A Agência Internacional de Energia - IEA projeta que o hidrogênio verde poderia fornecer até 24% das necessidades energéticas globais até 2050, contribuindo para uma redução de até 20% nas emissões de CO2, no entanto, seu custo de produção ainda é um desafio, sendo significativamente mais elevado que o do hidrogênio cinza e azul (produzido com captura de carbono na atmosfera). A redução desses custos é crucial para a viabilidade econômica e expansão do uso do hidrogênio verde.

Desafios e Oportunidades Globais 

Para viabilizar o uso do hidrogênio verde, muitos países estão implementando políticas de incentivo e investimentos em pesquisa e desenvolvimento, a União Europeia, por exemplo, estabeleceu uma meta ambiciosa de produzir 10 milhões de toneladas de hidrogênio verde até 2030, com investimentos massivos em infraestrutura e inovação tecnológica. Países como a China, Japão e Austrália estão na vanguarda, com a Austrália investindo bilhões em plantas de hidrogênio verde com foco na exportação para mercados asiáticos, e a China destinando recursos para substituir o hidrogênio cinza em suas indústrias, alavancando seu uso em setores como siderurgia e química.

O Papel do Brasil na Economia do Hidrogênio Verde

O Brasil possui uma vantagem competitiva única devido à sua matriz energética predominantemente renovável, com cerca de 83% da eletricidade proveniente de hidrelétricas, eólicas e solares. Esse diferencial pode tornar o país um dos maiores produtores e exportadores de hidrogênio verde, com custos de produção potencialmente mais baixos do que em outras regiões do mundo.

Localizado no Porto de Suape, em Pernambuco, o TecHUB Hidrogênio Verde, é uma iniciativa estratégica que visa posicionar o Brasil como líder global na produção e exportação desse combustível, liderado pelo Senai-PE, o supercluster está sendo desenvolvido com o apoio de parceiros públicos e privados, incluindo universidades e empresas de tecnologia, visando acelerar o desenvolvimento de soluções inovadoras e sustentáveis. O complexo abrigará plantas piloto para produção de hidrogênio verde e instalações dedicadas à pesquisa em baterias de baixa voltagem e outras tecnologias emergentes. Além disso, funcionará como um centro de capacitação para profissionais, abordando a crescente demanda por mão de obra qualificada no setor.

Desafios Técnicos e Regulatórios no Brasil

Apesar das vantagens, o Brasil enfrenta desafios significativos, especialmente relacionados à infraestrutura e regulamentação. A infraestrutura existente não está plenamente preparada para o transporte e armazenamento de hidrogênio, necessitando de investimentos em novas tecnologias e adaptações, além disso, o marco regulatório para a produção e comercialização de hidrogênio verde continua em fase de desenvolvimento. Incentivos fiscais, subsídios para pesquisa e a criação de um mercado regulado para o hidrogênio são medidas fundamentais para atrair investidores e fomentar o crescimento desse setor.

Outro obstáculo é a competição com outros produtores globais que já avançaram na curva de aprendizado, o Brasil precisará não só alavancar sua abundância de energia renovável, mas também investir pesadamente em pesquisa e inovação para reduzir os custos de produção e tornar o hidrogênio verde acessível e competitivo internacionalmente. Estratégias bem-sucedidas em outros países, como a planta de hidrogênio verde de Heide na Alemanha, que utiliza eletricidade de parques eólicos para alimentar indústrias locais, podem servir de modelo para o Brasil.

Oportunidades Econômicas e Ambientais

O hidrogênio verde tem o potencial de movimentar cerca de US$ 700 bilhões globalmente até 2050, e o Brasil está bem posicionado para capturar uma parte significativa desse mercado, a expansão dessa indústria no Brasil pode gerar milhares de empregos, atrair investimentos estrangeiros e diversificar a matriz econômica do país, e ampliar a base energética local, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis. Além disso, ao se tornar um exportador de hidrogênio verde, o Brasil pode desempenhar um papel crucial na descarbonização global, auxiliando outros países a atingirem suas metas climáticas.

À medida que o mundo avança para um futuro de baixo carbono, o hidrogênio verde oferece ao Brasil uma oportunidade única de transformar sua economia e se destacar como um líder global em energias renováveis. Para alcançar essa visão, é essencial que o Brasil adote uma abordagem estratégica integrada, envolvendo políticas públicas eficazes, incentivos ao desenvolvimento de infraestrutura e tecnologias, e uma colaboração robusta entre governo, indústria e academia.

A criação do TecHUB é apenas o início de uma trajetória promissora, a continuidade de investimentos, o apoio governamental consistente e o engajamento dos setores público e privado serão cruciais para que o Brasil consolide sua posição como um dos principais atores globais do hidrogênio verde, impulsionando a inovação, sustentabilidade e contribuindo significativamente para a luta contra as mudanças climáticas em escala global. Com essas ações, o Brasil não apenas atenderá às suas próprias necessidades energéticas, mas também se tornará um fornecedor mundial de soluções energéticas limpas, transformando desafios em oportunidades e liderando a economia do futuro.

*Advogado, ex-Secretário Executivo de Direitos Humanos de Pernambuco

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