O sempre certeiro Post, de Washington, com a pontaria em dia, fatal
Enio Lins
THE WASHINGTON POST, um dos mais afamados e poderosos jornais americanos, publicou ontem uma extensa reportagem com o ministro Alexandre de Moraes, cujo título condensa brilhantemente as 215 linhas do longo e irrebatível texto: “O juiz que se recusa a ceder à vontade de Trump: 'Faremos o que é certo”’ (The judge who refuses to bend to Trump’s will: ‘We’ll do what’s right’). Manchete que é uma aula editorial com apenas 16 palavras na versão em português (13 no inglês original). Concisão impecável.
PARA A PARCELA ALFABETIZADA do planeta, nada pode descrever melhor a importância do magistrado brasileiro que essas 11 das 16 palavras: “O juiz que se recusa a ceder à vontade de Trump”. Singular usado com precisão cirúrgica. Pense numa extraordinária capacidade de descomplicar um texto, de ir à essência em uma única frase. No mundo, hoje, quantas pessoas resistem a um ataque direto, brutal, do galego da Casa Branca? Certamente, existem personalidades outras que repelem as investidas autocráticas do presidente da maior superpotência da atualidade, inclusive – e principalmente – nos Estados Unidos. Mas nas condições de Alexandre de Moraes, magistrado da Corte Suprema de um país alheio, alvo de ataques e sanções pessoais, diretas, e de crescente intensidade, no mundo, hoje, só Alexandre de Moraes.
“FAREMOS O QUE É CERTO” é a complementação perfeita da frase, repassando ao leitorado americano e mundial a posição de um cidadão atacado, um juiz, garantindo que não se intimida com os ataques. É qualificada, através dessas cinco palavras, a essência da resistência: fazer o certo. ‘We’ll do what’s right’, no inglês original, tem um destino certo: olhos, ouvidos, corações e mentes norte-americanas que têm como critério a justeza de um ato, a correção de um procedimento de acordo com a ética, algo especialmente valioso para quem faz questão de estar do lado certo da vida e da história.
NÃO É UM PANEGÍRICO a entrevista. A dupla de repórteres do Post (Terrence McCoy e Marina Dias) ouviu o contraditório, publicando tanto a visão da Casa Branca e de americanos hostis sobre o magistrado brasileiro, quanto as opiniões de brasileiros que discordam de Alexandre de Moraes. Os argumentos contrários, entretanto, autodestroem-se na comparação aos fatos reportados. Viram pó. Naturalmente, pela simples comparação entre os conteúdos das declarações. Sem forçar a barra.
UM DOS INTERTÍTULOS da reportagem diz: “O juiz não se deixou intimidar”, seguindo com um parágrafo definidor: “‘Não há a menor possibilidade de recuar um milímetro sequer’, disse Moraes ao The Post em uma rara entrevista de uma hora em seu gabinete neste mês. ‘Faremos o que é certo: receberemos a acusação, analisaremos as provas, e quem deve ser condenado será condenado, e quem deve ser absolvido será absolvido’ (...) Moraes tornou-se uma autoridade nacional por si só, além de uma figura única no mundo: um xerife da democracia. Seus decretos expansivos repercutiram em todo o mundo, em sociedades cada vez mais polarizadas por debates sobre liberdade de expressão, tecnologia e o poder do Estado”, e segue a matéria. Firme. É isso aí, gente. Ponto pro Post.
Leia: Defesa da nação consolida democracia https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/08/walter-sorrentino-opina_18.html
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