Drama atroz recorrente*
De Suassuna à era da IA, profecias sobre o fim do livro e da escrita se repetem — mas a criação humana, feita de sonhos, dores e esperança, segue abastecendo as tecnologias.
Luciano Siqueira
instagram.com/lucianosiqueira65
Certa vez, um repórter abordou Ariano Suassuna a propósito de determinado autor que prenunciara o fim do livro impresso por causa da internet.
— Ele disse isso aonde?, indagou o autor do Auto da Compadecida.
— Num livro, respondeu o repórter.
— Ora, se esse cara escreveu um livro para dizer que o livro vai acabar,
não merece crédito!
Previsões dessa natureza ocorreram antes, por exemplo, quando do advento
da televisão, que muitos diziam sepultaria o rádio.
Hoje o rádio segue forte e fagueiro, assim como a televisão e outros
inventos dessa ordem.
Agora, muito se escreve sobre o risco de se parar de escrever por conta
da Inteligência Artificial. Basta perguntar, que a IA responde com tamanha
riqueza de detalhes que dispensa escritores, roteiristas, repórteres, colunistas
e quejandos.
("Quejandos" entrou aqui por capricho, para reafirmar que, a
rigor, também não há palavras em definitivo desuso).
Pois há quem escreva que a IA generativa torna provável que ninguém
precise escrever mais nada. Nem pensar.
Arre égua!, como dizem os cearenses.
Que eu saiba, a IA funciona abastecida por nós renitentes humanos. Se
parássemos de criar a partir dos nossos sonhos, conquistas desalentos, dores e
amores e simples pretensões do cotidiano a tal Inteligência Artificial,
desabastecida, entraria em colapso.
Minúsculos profetas tecnicistas de ocasião, vocês estão errados! Nós
humanos seguiremos criando imagens e linguagens próprias de quem vive, ama,
luta e, apesar de tudo, segue adiante sem perder a esperança jamais.
*Texto da minha coluna semanal no portal 'Vermelho'
[Iustração: Auguste Rodin]
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Leia também: A felicidade a conta-gotas https://lucianosiqueira.blogspot.com/2025/08/minha-opiniao_13.html
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