08 novembro 2008

O grande negócio do cinema

No Blog do Emir:
Ao cinema, a comer pipocas

Uma sociedade fundada no lucro, na sua fase superior, a neoliberal, que trata de transformar tudo em mercadoria, tudo tendo preço, tudo se vende, tudo se compra – a cultura é uma vitima privilegiada.

Nos seus inícios, a produção de filmes buscava obter a maior bilheteria possível, de onde provinha o grosso dos recursos da indústria cinematográfica. Algumas décadas depois, o grosso do lucro vem de fora das salas – da televisão, dos DVDs,videocassetes, no licenciamento dos produtos - que produziram cinco vezes mais do que nos cinemas. Em 1947, 90 milhões de estadunidenses, do total de 151 milhões, iam semanalmente ao cinema. 95% dos rendimentos vinham da venda de ingressos na bilheteria. Em 2003 foram vendidos 3,1 bilhões de entradas a menos nos EUA do que em 1947. Apenas 12% dos estadunidenses costumam ir a cinemas, os outros têm acesso aos filmes nas outras modalidades.

O supra-sumo da comercialização vem do que acontece nas salas de cinema. Não creiam que são as entradas de cinema o que produz o fundamental do arrecadado pelos exibidores. É a venda de comestíveis e de bebidas. A venda de pipocas rende mais de 90% das vendas, com a vantagem de que deixam o consumidor com sede, o que demanda o consumo de bebidas. Como diz um executivo de cinema estadunidense, “o segredo para uma cadeia de multiplexes bem-sucedida está naquela porção extra de sal acrescentada à pipoca” (Do livro “O grande filme”, de E. J. Epstein, da editora Summus). A alta produtividade da pipoca – produz grande quantidade com uma porção relativamente pequena de grãos, na proporção de 60 para 1 – favorece esses ganhos.

Por isso as novas salas de cinema são projetadas para que os espectadores passem pela lanchonete obrigatoriamente antes de chegarem às salas. “Nosso negócio se baseia na movimentação das pessoas”, diz um dono de cinema. “Quanto mais pessoas conseguimos fazer passar pela pipoca, mais dinheiro ganhamos”. O porta-copos em cada cadeira das salas foi caracterizada por ele como “a inovação tecnológica mais importante desde a sonorização”. (sic) Daí o peso essencial que o público jovem tem, como consumidor concentrado de pipoca e de refrigerantes.

A economia política da pipoca, que comanda a indústria cinematográfica, influencia até na extensão dos filmes. Os muito longos – de mais de 128 minutos – diminuem uma sessão diária e, com isso, o consumo de pipoca, de sal e de refrigerantes.

Dificil seguir chamando ao cinema – pelo menos o estadunidense, submetido à lógica da pipoca – de arte. Está mais para a gastronomia e para o colesterol.

Um comentário:

Roberta disse...

Mas que a verdade seja dita, Luciano. A tal da pipoca seja em qualquer lugar é muito boa!!!Eu mesmo não consigo sentir seu cheiro e ficar sem apreciar seu gostinho bom...
Abraços!!