Mania feia esta de dizer eu te amo.
Vício ignóbil de linguagem.
Amor é coisa sagrada.
Não se pode invocar em vão.
É como o nome de Deus.
Não adianta chamar toda hora.
O amor é surdo.
É mistério que ninguém consegue expressar em palavras.
Nem com a conjugação correta dos verbos.
Nem com prosopopéias e metáforas.
Arrojos. Acrobacias. Subterfúgios.
Devaneios. Solilóquios. Sussurros.
Amor é bicho difícil de domesticar.
Animal feroz.
Espírito encantado das colinas.
Pluma que se perde ao vento,
mas por vezes cai em nossas mãos.
É grão de mostarda. É mar morto. Capadócia.
Amor é viagem que a gente imagina.
Sonho em madrugada fria.
É sobrado velho pintado com as cores do inefável.
Por isso, é bonito. Cega a vista. Cega a alma.
Deixa a gente louco. Estarrecido. Calado.
Cheio de lágrimas no canto dos olhos.
Amor é canção de roda. Esconde-esconde.
É o amigo invisível dos meninos que correm na praça.
Carta amarelada das mulheres no alpendre.
Rosto na janela.
É pão sobre a mesa.
Risada interminável.
Amor é gesto. É corpo.
São olhares que se entrecruzam de manhãzinha.
Não é dizer. Não é conversa.
É ato abrupto. Abraço apertado.
Amor é silêncio.
Um comentário:
Saudações, Luciano!
Outra vez um poema meu por aqui. Fico feliz que tenha gostado do "Poema de amor". Eu o escrevi em 2009, numa fim de manhã ensolarado, antes que o tempo de chuva tomasse conta de São Paulo. O poema nasceu na rua mesmo, meio apressado. As palavras escapuliam. Depois eu dei um jeito no poema.
Muito grato. Já li os novos poetas que você está publicando em seu blog. Que alegria.
Estou preparando um livro de contos, um livro sincrético, inspirado nas vozes das ruas, nas pessoas. O título é "A chuva vai derrubar todo mundo". Mas não tenho editora.
Grande abraço,
Rudinei Borges
www.aruasetima.wordpress.com
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