04 setembro 2011

Quem somos, para onde podemos ir

No Vermelho, por Eduardo Bomfim:
O País do futuro

Quem viveu ou participou dos acontecimentos nas últimas quatro décadas que envolveram a nação brasileira e observa as dramáticas dificuldades que atualmente passam os Países do primeiro mundo, em especial os Estados Unidos e os da União Europeia, dificilmente vai deixar de fazer algum tipo de reflexão sobre esses períodos históricos.

Porque o Brasil sempre foi conhecido lá fora como o País do futuro, uma alcunha que vem do título do livro do escritor austríaco Stefan Zweig exilado em Petrópolis, Rio de Janeiro, durante o início do avanço nazista na Europa.

No entanto, aquilo que surgiu como um presságio às nossas possibilidades, através dos olhos de quem conhecia o velho mundo e a sua civilização, passou a significar o seu contrário, ou seja, uma nação que nunca vai dar certo, que não tem jeito.

Ainda mais quando havia contra o nosso processo civilizatório um tremendo preconceito racista porque as nossas raízes antropológicas de indígenas, ibéricos e africanos teriam produzido uma “miscigenação desaconselhável às raças humanas”.

Pelo menos era o que diziam os doutos cientistas europeus a exemplo do conde Gobineau e o seu famoso “Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas”. Ele afirmou que o Brasil por ter um povo mestiço não tinha nenhum futuro e além do mais estava situado nos trópicos o que piorava as coisas porque o calor, umidade, as florestas, tudo conspirava contra o nosso destino.

Esse preconceito atravessou os tempos e ainda persiste em algumas cabeças elitistas no Brasil. As “causas” da nossa hipotética “inviabilidade genética e ambiental” talvez tenham mudado, mas o espírito de colonizado e embevecido pelas civilizações ditas opulentas ainda permanece.

Não era outro o entendimento do norueguês que fuzilou dias atrás dezenas de jovens em Copenhague quando em seu manifesto nazi-fascista afirmou que a mestiçagem do povo brasileiro era algo que devia ser condenado.

São essas as ideologias que escondem a essência dos males que afligem a humanidade, a exploração do trabalho humano, as brutais naturezas dos colonialismos ou dos imperialismos.

Assim, essa civilização tropical, lavrada em sangue índio, africano, ibérico e tantos outros, com imenso sacrifício, confrontando dificuldades e injustiças sociais, não só está de pé como avança. Stefan Zweig conhecia bem o mundo, tanto como tinha a convicção sobre o futuro do Brasil e da América Latina.
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