Luciano Siqueira
Publicado no Blog de Jamildo
(Jornal do Commercio Online)
Antes de tudo tenho que reconhecer a minha quase nenhuma
autoridade para comentar o assunto. Por uma razão muito simples: há mais de
trinta anos deixei de frequentar os estádios por uma escolha da qual não me
arrependo: priorizar a vida em família ao invés de sacrificar uma tarde de
domingo assistindo uma partida de futebol, por mais importante que fosse. A
escolha se impôs em razão da vida atribulada de militante e, durante algum
tempo, de médico, que subtraía, como até hoje subtrai, momentos preciosos da
convivência familiar.
As duas filhas jamais se queixaram da militância intensa dos
pais justamente porque não lhes faltamos em todas as fases da vida, da infância
à atual idade adulta.
Mas não me nego a ver na TV uma peleja bem disputada. E,
confesso, escuto resenhas esportivas radiofônicas para ter uma ideia de como as
coisas andam, cá na província e mundo afora.
Na TV, se o jogo é bem disputado vou até o fim; se é uma
pelada marcada pela retranca intransponível dos contendores, desligo e volto as
minhas atenções para um bom livro.
Hoje tem jogo do Brasil contra a Argentina, em Buenos Aires.
Vejo-me totalmente desinteressado, sequer terei tempo de dar uma espiada,
envolto em compromisso com a equipe de transição que ajuda o prefeito eleito do
Recife, Geraldo Julio, a preparar o futuro governo.
Antigamente, perder um jogo da canarinha nem pensar! Hoje,
qual mesmo a escalação do time, quem sabe? A cada amistoso, a seleção se
apresenta com uma composição diferente. Ninguém consegue mais se enredar em
homéricas polêmicas sobre qual o melhor zagueiro central, o meio campista
preferido ou a linha de frente. A escalação segue ao prazer das circunstâncias
- que são determinadas não por moto próprio, mas por imposição de contrato
assinado entre a CBF e a FIFA, que se encarrega de programar os jogos. Daí
porque acontecem coisas esdrúxulas, como o Brasil enfrentar a Colômbia nos EUA.
É a globalização do futebol, escutei um comentarista
asseverar semana passada numa das resenhas de maior audiência. Traduzindo: o
futebol é um grande negócio que ultrapassa fronteiras e não tem território
específico para se realizar, qualquer parte do globo terrestre vale a pena,
desde que dê lucro aos seus promotores. O torcedor, esse eterno desrespeitado,
fica a ver navios – ou melhor, a ver partidas que mais parecem uma pelada de
praia do que propriamente confronto entre escretes nacionais.
Dá uma saudade danada das seleções de antigamente. Os mais antigos se lembrarão do escrete bicampeão mundial, vencedor das Copas de 1958 e 1962, cuja escalação mudou quase nada em oito anos. Envergar a camiseta verde-amarela era a glória para o jogador brasileiro, pois poucos alcançavam esse galardão. Hoje, em dois anos de vigência do comando de um treinador, ultrapassa a duzentos os que se viram honrados com a convocação para um desses jogos caça-níqueis que não empolgam ninguém. Foi-se a glória, dissipou-se a emoção.
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