Luciano Siqueira
Publicado
no Blog da Folha
Em recessão
prolongada e às voltas com o ciclo vicioso da financeirização exacerbada, a
Europa mantém-se no atoleiro da crise, sem perspectiva de solução à vista.
Precisa retomar o caminho da produção e da expansão das oportunidades de
trabalho, mas aferra-se a uma receita de “austeridade” determinada pelos
governantes de sempre, adeptos das políticas de cunho neoliberal.
Nesse cenário,
Dilma visita a Espanha, que amarga a espantosa taxa de 25% de desemprego.
Instada pelo influente jornal El Pais a opinar sobre a situação, foi clara e
contundente: “Eu não creio que o problema da Europa seja seu modelo de
bem-estar social. O problema é que se tem aplicado soluções inadequadas para a
crise e o resultado é um empobrecimento das classes médias. A este passo, se
produzirá uma recessão generalizada.”
Para a presidenta
brasileira, a Europa vive uma situação que os latino-americanos bem conhecem: “Há
uma crise fiscal, uma crise de competitividade e uma crise bancária. E as
receitas que se estão aplicando levarão a uma recessão brutal. Sem
investimentos será impossível sair da crise”. Pior: assim se engendra a
recessão global, com graves consequências inclusive para os países emergentes.
Importa
sublinhar, além do teor da entrevista, a autoridade com que se pronunciou a
chefe do governo brasileiro e a repercussão de suas palavras. O Brasil, desde
Lula, tem voz altiva no concerto internacional mercê de uma política externa
soberana e dos êxitos alcançados na construção de alternativas próprias ao
desenvolvimento. O inverso do que ocorria na chamada Era FHC, quando o tom e o
conteúdo da inserção brasileira na cena mundial eram marcados pela
subserviência aos EUA e pela excessiva timidez nas relações com a União
Europeia. Isto acrescido da subestimação das relações diplomáticas e comerciais
com países emergentes, hoje parceiros destacados do Brasil, como a China.
O novo rumo de
nossa política externa, construído nos dois governos sucessivos de Lula, ao
lado das imensas possibilidades de expansão do mercado interno, possibilitou
alternativas ao enfrentamento da crise global que, se não nos imunizam de todo
das ameaças à nossa economia, ensejam a manutenção de um nível de atividade
econômica que nos diferencia e nos coloca numa linha de resistência. Aqui se
deu uma inversão na equação danosa que priorizava o sistema financeiro em
detrimento da produção.
Sinais do tempo
novo que vivemos e que as cassandras a soldo dos grandes banqueiros daqui e de
fora teimam em negar em suas “análises” na grande mídia.
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