Luciano Siqueira
Publicado no Blog da Folha
Ao mesmo tempo em que se questiona uma hipotética
antecipação da sucessão presidencial, cobra-se de partidos e personalidades
influentes definições imediatas. A incoerência reside no fato de que há uma
distância real entre a especulação e a realidade concreta; ou, dito de outro
modo, entre vontades explícitas ou veladas e as possibilidades objetivas, que
ficarão claras ou não apenas nos primeiros meses do ano que vem.
Infelizmente, aos apressados resta incorporar aos seus
espíritos uma boa dose de paciência; e aos analistas de todos os naipes, um
pouco de atenção à evolução natural da cena política. Literalmente é impossível
botar o carro adiante dos bois, salvo sob o risco de mudança de rumo, brusca e
indesejável, quando o campo da luta ganhar seus contornos definitivos.
Ora, todo o noticiário pró-borramento do quadro sucessório
conta com a existência de quatro o cinco candidaturas de oposição, dentre as
quais uma possível dissidência do bloco governista atual. Estratégias são
formuladas a partir dessa hipótese, a que se agrega a torcida explícita e
desavergonhada para que a economia vá mal e que a maioria dos brasileiros
retorne à situação anterior – da chamada era FHC anos atrás – onde a exclusão
do processo produtivo e do mercado de consumo era a tônica.
E se vierem a se confirmar expectativas positivas em relação
ao desempenho da economia, agora em ambiente macroeconômico mais propício a
investimentos produtivos e sem nenhum dado novo que conspire contra a expansão
da cobertura dos programas sociais inclusivos?
Nesse caso, nem a oposição respiraria ares promissores, como
no instante presente, nem se consumaria, creio, dissensões importantes na ampla
coalizão partidária reunida em torno da presidenta Dilma.
Isso não quer dizer que o sonhado (pelas oposições) cenário
de relativa dispersão e de múltiplas candidaturas anti-Dilma não venha a se
configurar, nem que o governo possa enfrentar transtornos e atropelos que criem
dificuldades à reeleição da presidenta. Pode – mas será necessário que as
forças que remam contra a maré atrapalhem muito mais do que têm tentado
atrapalhar e que o governo abara do correto rumo que segue.
Portanto, é cedo para que manobras, conjecturas e desejos se
cristalizem como fato.
Nesse cenário em formação, partidos que tenham os pés no
chão e lideranças ciosas de suas potencialidades e missões futuras, têm mesmo é
que participar da roda viva especulativa, ouvir mais do que falar e guardar
suas conclusões para um tempo futuro, quando a luz do dia deixará claro quem é
quem e os trunfos de cada um.
Em 2014, tudo pode acontecer, inclusive a ocupação de novos
lugares na grande cena política por novos atores; ou simplesmente nada
diferente de agora: Dilma apoiada por cerca de quatorze partidos versus
oposições fracionadas e sem propostas nem rumo.
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