Luciano Siqueira
Publicado no Blog Algomais e
no Jornal da Besta Fubana
O primeiro telefonema do dia é do velho e sempre presente
Epaminondas: - Lembra-se daquela musiquinha da jovem guarda em que um cantor de
voz fraca sonhava com o amor de uma Marcianita? Veja os jornais de hoje: ela
pode estar por aí...
Lembro-me da música sim, embora jamais tenha prestado
atenção à letra inteira: “Esperada,
Marcianita,/Asseguram os homens de ciência/Que em dez anos mais, tu e eu/Estaremos
bem juntinhos,/E nos cantos escuros do céu falaremos de amor...”.
Com tanta coisa
importante a tratar, o noticiário cheio de noticias reais e muito mais
fictícias, notas plantadas em colunas de política e de economia, e o Epaminondas
interrompe minha leitura matinal com assunto tão irrelevante!
- Irrelevante coisa
nenhuma! Leia, homem, preste atenção ao que a Nasa acaba de descobrir: poderia
ter havido vida em Marte.
De fato, está nos
jornais: cientistas da agência aeroespacial norte-americana afirmam que uma
rocha sedimentar encontrada pelo jipe-robô Curiosity contém seis elementos
químicos necessários à existência de micróbios - enxofre, nitrogênio,
hidrogênio, oxigênio, fósforo e carbono. Daí se depreende que o planeta já teve
condições de habitabilidade por gente tipo a gente cá da Terra.
Um tal John
Grotzinger, comandante científico da missão Curiosity é categórico: “Essa rocha
é bem parecida com o tipo de coisa que achamos na Terra. Encontramos um
ambiente habitável tão benigno e amigável à vida que, se essa água ainda
existisse e nós estivéssemos ali no planeta, poderíamos bebê-la”. Para
Epaminondas, eis a senha para a busca de Marcianita, empreitada na qual deseja
me comprometer.
Ora, tenho lá tempo para me preocupar com essa bobagem! Mas o amigo é persistente: - Cara, os americanos são dados a descobertas fantásticas, leve isso a sério. Veja o que botaram no relatório da pesquisa (prossegue do outro lado da linha com um exemplar da Folha de Pernambuco em punho): “O jipe-robô ainda não encontrou substâncias orgânicas, que seriam um sinal inquestionável da existência de vida em Marte. Mas isso já não é mais necessário para dizer com segurança que o planeta era habitável, pois a maioria das bactérias da Terra metaboliza substâncias inorgânicas.”
Ora, tenho lá tempo para me preocupar com essa bobagem! Mas o amigo é persistente: - Cara, os americanos são dados a descobertas fantásticas, leve isso a sério. Veja o que botaram no relatório da pesquisa (prossegue do outro lado da linha com um exemplar da Folha de Pernambuco em punho): “O jipe-robô ainda não encontrou substâncias orgânicas, que seriam um sinal inquestionável da existência de vida em Marte. Mas isso já não é mais necessário para dizer com segurança que o planeta era habitável, pois a maioria das bactérias da Terra metaboliza substâncias inorgânicas.”
A tese de
Epaminondas é que se antes, sabe-se lá quando, aquele planeta era habitável,
pode ter gente de lá zanzando por aqui, feito assombração, mas de carne e osso.
Marcianos e marcianas, com predileção óbvia por marcianas. E enquanto cantarola
a musiquinha, chamando por Marcianita, segue especulando que pode haver
elementos infiltrados em centros de pesquisa científica, ou nas redações dos
grandes conglomerados da mídia internacional, ou na Aple ou Microsoft, ou mesmo
no alto comando do PSDB. – Pode ser um perigo!, adverte.
Bom, para cortar a
conversa, ponho-me em solidariedade ao conterrâneo admitindo que pelo menos num
canto do Brasil nenhum alienígena representa ameaça: o alto ninho tucano
reunido em torno do senador Aécio Neves. Dalí nada sai além de furor odioso
contra o PT e a esquerda e maledicências típicas da viuvez do neoliberalismo.
Nem mesmo Marcianita, com os encantos proclamados na musiquinha sem graça,
produziria ali uma ideia nova.
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