Luciano Siqueira
Já o amigo Epaminondas vive conectadíssimo. De olho no que
acontece aqui e mundo afora. Dele recebo a notícia de que a Nasa – a agência espacial norte-americana – vai financiar pesquisa sobre
hibernação humana. Com a observação em negrito: “Essa eu topo, na hora! Bem
queria hibernar por uns anos e acordar novinho em folha e ver como as coisas
andam. Principalmente saber se minha poupança rendeu um pouco mais e se a
Norminha ainda me quer.”
Na verdade, a dita pesquisa,
ainda em fase inicial, pretende testar a "hibernação humana" como
estratégia para manter astronautas vivos durante viagens espaciais exageradamente
longas. Ao planeta Marte, por exemplo. Que além de custar uma fortuna, requer
ração e resistência fora do comum – se é que podemos considerar comum qualquer
coisa que se relacione com viagens espaciais.
O idealizador da pesquisa, um tal John
Bradford, da Spaceworks Engineering, empresa especializada na matéria, faz os
cálculos: para uma tripulação de quatro a seis pessoas, a massa de um habitat pode
ser reduzida para 5 a 7 toneladas, comparada com 20 ou 50 toneladas. E
acrescenta: o progresso da medicina possibilita induzir estados de sono
profundo (por exemplo, o torpor) com taxa de metabolismo significativamente
reduzida, em humanos, por grandes períodos de tempo.
Se bem entendo, o astronauta seguiria
em viagem pelo espaço sob sono profundo e sem vontade de comer e beber, e sem
gastar o tanto de energia que gastaria se estivesse “nadando” em suspenso na
cabine.
Procedimentos conexos dariam conta do
consumo energético com a propulsão da nave, de modo que humanos e máquina
poderiam seguir a anos luz com menor dispêndio de combustível e comida.
Velho leitor das aventuras em
quadrinhos de Flash Gordon e tarado por ficção científica, Epaminondas imagina,
de bate-pronto, que se a pesquisa vier a comprovar a viabilidade das ideias de
Mr. Bradford, bem que poderá ter suas aplicações cá na Terra, onde os percalços
cotidianos muitas vezes levam o cara a desejar de verdade sair de circuito por
prolongado período para retornar depois que muita água já haja passado por
debaixo da ponte. Hibernando em meio a muita confusão e acordando com tudo
serenado e, se possível, melhor do que estava antes. Com uma vantagem: a
hibernação não envelheceria o sujeito, que assim manteria a forma; retornando
novinho em folha, pronto para usufruir o bem bom.
Tudo bem, Epaminondas – você tem todo
o direito de sonhar com soluções extremas para os velhos e bem conhecidos
aperreios da existência humana. Mas pode acontecer o contrário: ao retornar à
normalidade, o ser hibernado se deparar com uma situação pior do que antes,
inclusive mudanças nas regras de funcionamento do mercado – e a poupança lá em
baixo – e nos humores e preferências da namorada, acolhida em outros braços. Afinal,
como ensinou Einstein, tudo é relativo nesse vasto universo que habitamos...
Leia mais sobre ciência, arte, humor, política, economia e cultura clicando aqui http://migre.me/dUHJr
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Um comentário:
"Hibernar? Há quem queira – com todos os riscos". Eu não queria. Após ler o texto, caro amigo, deu foi vontade de viver intensamente cada segundo neste universo proposto, visualizando, assimilando e enfrentando cada instante, para tirar o devido proveito, desde já. Claro, é um desafio a ser encarado. Penso que poderíamos hibernar a intolerância que assola o homem no mundo, dentre outros comportamentos caóticos, mas não o ser em si. Agora, talvez, uma parada para escutar a própria respiração e/ou a consciência, ou, quem sabe uma terapia da meditação, já nos possibilitaria viajar ou parar no tempo presente para propiciar subsídios salutares à produção de um futuro palpável, já que a essência dele é o desconhecido, independentemente do fenômeno da hibernação. Se o homem padece de coragem, em regra, para enfrentar os próprios devaneios do cotidiano, de que deveras participara, que dirá de um futuro/presente desconhecido?!?!?!? Talvez a hibernação seja necessária, tão somente, para os astronautas... já que passíveis de viver no mundo da LUA etc... Abraços.
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