06 agosto 2013

Uma crônica para descontrair

Hibernar? Há quem queira – com todos os riscos
Luciano Siqueira

 
Não sou dos que passam quase todo o tempo útil navegando na internet. Mas estou sempre conectado, no mínimo pelo Iphone. E entre uma tarefa e outra, dou uma espiada nos e-mails, no Twitter e no Facebook (onde entro e saio feito um raio) e, sobretudo, no noticiário. Um modo de me sentir moderno, pelo menos isso...

Já o amigo Epaminondas vive conectadíssimo. De olho no que acontece aqui e mundo afora. Dele recebo a notícia de que a Nasa – a agência espacial norte-americana – vai financiar pesquisa sobre hibernação humana. Com a observação em negrito: “Essa eu topo, na hora! Bem queria hibernar por uns anos e acordar novinho em folha e ver como as coisas andam. Principalmente saber se minha poupança rendeu um pouco mais e se a Norminha ainda me quer.”

Na verdade, a dita pesquisa, ainda em fase inicial, pretende testar a "hibernação humana" como estratégia para manter astronautas vivos durante viagens espaciais exageradamente longas. Ao planeta Marte, por exemplo. Que além de custar uma fortuna, requer ração e resistência fora do comum – se é que podemos considerar comum qualquer coisa que se relacione com viagens espaciais.

O idealizador da pesquisa, um tal John Bradford, da Spaceworks Engineering, empresa especializada na matéria, faz os cálculos: para uma tripulação de quatro a seis pessoas, a massa de um habitat pode ser reduzida para 5 a 7 toneladas, comparada com 20 ou 50 toneladas. E acrescenta: o progresso da medicina possibilita induzir estados de sono profundo (por exemplo, o torpor) com taxa de metabolismo significativamente reduzida, em humanos, por grandes períodos de tempo.

Se bem entendo, o astronauta seguiria em viagem pelo espaço sob sono profundo e sem vontade de comer e beber, e sem gastar o tanto de energia que gastaria se estivesse “nadando” em suspenso na cabine.

Procedimentos conexos dariam conta do consumo energético com a propulsão da nave, de modo que humanos e máquina poderiam seguir a anos luz com menor dispêndio de combustível e comida.

Velho leitor das aventuras em quadrinhos de Flash Gordon e tarado por ficção científica, Epaminondas imagina, de bate-pronto, que se a pesquisa vier a comprovar a viabilidade das ideias de Mr. Bradford, bem que poderá ter suas aplicações cá na Terra, onde os percalços cotidianos muitas vezes levam o cara a desejar de verdade sair de circuito por prolongado período para retornar depois que muita água já haja passado por debaixo da ponte. Hibernando em meio a muita confusão e acordando com tudo serenado e, se possível, melhor do que estava antes. Com uma vantagem: a hibernação não envelheceria o sujeito, que assim manteria a forma; retornando novinho em folha, pronto para usufruir o bem bom.

Tudo bem, Epaminondas – você tem todo o direito de sonhar com soluções extremas para os velhos e bem conhecidos aperreios da existência humana. Mas pode acontecer o contrário: ao retornar à normalidade, o ser hibernado se deparar com uma situação pior do que antes, inclusive mudanças nas regras de funcionamento do mercado – e a poupança lá em baixo – e nos humores e preferências da namorada, acolhida em outros braços. Afinal, como ensinou Einstein, tudo é relativo nesse vasto universo que habitamos...
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Um comentário:

Patrícia disse...

"Hibernar? Há quem queira – com todos os riscos". Eu não queria. Após ler o texto, caro amigo, deu foi vontade de viver intensamente cada segundo neste universo proposto, visualizando, assimilando e enfrentando cada instante, para tirar o devido proveito, desde já. Claro, é um desafio a ser encarado. Penso que poderíamos hibernar a intolerância que assola o homem no mundo, dentre outros comportamentos caóticos, mas não o ser em si. Agora, talvez, uma parada para escutar a própria respiração e/ou a consciência, ou, quem sabe uma terapia da meditação, já nos possibilitaria viajar ou parar no tempo presente para propiciar subsídios salutares à produção de um futuro palpável, já que a essência dele é o desconhecido, independentemente do fenômeno da hibernação. Se o homem padece de coragem, em regra, para enfrentar os próprios devaneios do cotidiano, de que deveras participara, que dirá de um futuro/presente desconhecido?!?!?!? Talvez a hibernação seja necessária, tão somente, para os astronautas... já que passíveis de viver no mundo da LUA etc... Abraços.